Para mim o domingo 25 de abril foi o dia de duas estreias. Pela primeira vez conheci alguém da internet pessoalmente e pela primeira vez fiz uma certa coreografia tosca.
Não perdoando o bolo que Jane Carmen me deu ano passado eu marquei com uma amiga. Quem?
Nome: Ana Luísa
Origem: Silksnak Chat
Ocupação: Tráfico de órgãos
Pode parecer assustador marcar encontros com gente que você nunca viu na vida, mas creio que dá pra sacar quando não há sinceridade. Eu podia até não saber o que é toba, mas eu não sou tão ingênuo assim.
Encontrar-me com uma amiga virtual foi levemente desilusório. Não que eu tivesse expectativas que foram decepcionadas, mas todo o mundo é diferente pela internet. Você vê, enfim, que a pessoa é palpável e existe. Mas isso não teve influências negativas no meu encontro, foi uma percepção muito pessoal.
Eu tinha visto ela pela webcam, então não seria difícil reconhecê-la. Mas ela só tinha visto algumas fotos minhas, então eu disse: "é fácil, se você vir um cara alto, bonito, forte e sensual, pode gritar que sou eu". Mas nem precisou, o shopping tava quase vazio no domingo de manhã. Eu cheguei um pouco atrasado, porque eu quase fiquei perdido. Eu não conheço BH direito, mas ela tava lá. Ficamos conversando enquanto esperávamos uma outra amiga minha, dessa vez de longa data e presencial. Quem?
Nome: Sara Miranda
Origem: Submundo
Ocupação: Invadir boates gays com identidade falsa
Sara e eu tínhamos um aniversário pra ir mais tarde. O primeiro ano do meu primo Pedro, que coincidentemente ia ser num salão de festas no mesmo bairro em que Ana Luísa morava. Destino à parte, a gente foi comer no Habibs e como comida industrializada e sem sabor enjoa fácil, sobrou muita esfirra.
-- O que faremos?
-- Desperdício não tá com nada. Vamos procurar um mendigo.
Nem foi difícil encontrar um. Logo na porta do shopping tinha um cara com uma aparência nem tão ruim que nos pediu cinquenta centavos.
-- Olha moço, a gente tem comida, serve?
Ele deu uma bela olhada na caixa do Habibs.
-- É, na verdade isso aí é lanche, comida é arroz e feijão, mas eu vou aceitar.
De nada.
Isso foi tudo por culpa de Sara, que tem um ímã para mendigos estranhos. Ela conta que uma vez estava passando na rua e viu um mendigo lendo Harry Potter e as Relíquias da Morte, isso na época do lançamento do livro. Outro dia ela viu um mendigo se masturbando e ficou horrorizada. Deve ser o aquecimento global.
Como a festinha do meu primo seria perto de sua casa, Ana nos convidou para ir até lá, e eu conheci a mãe dela, o padrasto dela, os irmãos dela, o tio chato dela e até as cachorras dela, muito simpáticas por sinal. O tio dela já tinha vindo na minha cidade e demonstrou conhecer realmente a região, a mãe dela até pediu que eu levasse o legítimo requeijão almenarense se eu voltasse lá. E comentamos sobre o medo que tínhamos de encontrar alguém desconhecido.
-- Fica tranquilo, hoje eu não tô com fome, o rim fica pra próxima.
E padrasto dela ainda se ofereceu pra nos levar de carro à festa. Nem precisava se incomodar.
Festa do meu primo caçula muito gracinha que me chama de Cacá e ri quando eu faço careta. Crianças são amáveis. Tanto que nós expulsamos os moleques da cama elástica e furamos a fila pra pintar a cara. Muito doce, palhaças chatas e... boate. Os pré-adolescentes se achando na pista. Só refrigerante, suco e água pra beber. Como não tem ice? Esqueci que é festa de criança, mas por que tá tocando Lady Gaga e... Rebolation? Que se exploda o isolamento acústico.
Podia parecer ruim e no início foi. Mas depois que você aprende alguns passos e se familiariza com a música a situação se ameniza, ainda mais se você tiver companhia pra dividir o mico.
Acho que agora estou pronto para as próximas micaretas.