25.7.11

Está chovendo, amor

Isso é tão ridículo e infantil, mas ele não sabia melhor maneira de se expressar. Por que ele? Não sei, pouca diferença faria se fosse ela, mas ele prefere que seja ele.
-- Como vai?
E se você tiver milhões de coisas pra fazer e não tiver vontade de fazer nada? É mais crível que se chame isso de preguiça, mas ele não sabia se era isso, apenas sentia.
Como eu vou... Eu não vou, logo não sei como. Quer não ir também? Vamos não fazer nada juntos.
-- Bem.
Que sensação terrível. De não pertencer ao mundo, de não fazer parte da ordem das pessoas, de ser algo melhor, ou infinitamente pior. Nem isso ele sabia definir. As palavras iam deixando de fazer sentido, as coisas perdiam importância. Ele lembrou de algo que uma amiga dissera, as melhores coisas da vida não são as coisas. Mas ele já não sabia o que era a vida.
Acho que a única coisa que ele sabia era a razão de sentir assim. Quanta babaquice, é por isso? No fundo a razão não importa, hem, ele sabe que é tolice, que não faz o mínimo sentido. Mas aconteceu, e então? Um disparo para o coração. Ele adora brincar com os furos do acordo ortográfico. O que é o contexto, afinal?
-- Está chovendo, amor.
-- E parece que não vai parar tão cedo.
-- Tomara que me lave.
-- Qual a alma que não precisa de um banho?
-- Tira essa roupa, vamos nos molhar.
-- Está chovendo amor.
-- Faltou uma vírgula.
-- Não faltou, não.
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