O jornalismo literário é um tema controverso pra quem o estuda, pra quem o
faz, e talvez até pra quem o lê. É, a princípio, uma contradição: se é
jornalismo não pode ser literatura, porque literatura trabalha com
ficção e jornalismo com a verdade, ou pelo menos com aquilo que mais se
aproxima dela. Dentro do que é mais plausível é melhor dizer que um dito
jornalismo literário trabalha com os fatos de uma forma diferente,
tanto pela forma como trabalha com eles quanto pela estética do texto.
As pautas desse tipo de jornalismo buscam ser inovadoras, trazem
questões e pontos de vista que o jornalismo padrão não explora, e além
disso há uma preocupação com o estilo da narrativa, esse é aliás o ponto
central: o jornalismo literário busca narrar. João Moreira Salles,
fundador da piauí, diz inclusive que essa nomenclatura é inadequada e
sugere o termo jornalismo narrativo, porque o adjetivo literário é
restritivo e descretida o jornalismo. Nas mídias tradicionais em geral a
cobertura é rasa, as entrevistas são feitas comodamente por e-mail ou
telefone, as pautas não têm originalidade, os textos são mau escritos e
não dão conta da complexidade dos acontecimentos. Acredito que o
jornalismo literário (ou narrativo) parte da indignação com esse uso do
jornalismo e com a vontade de se fazer um trabalho
melhor. Ele não joga fora as técnicas da redação, apenas faz outro uso
delas, tentando ultrapassar os limites do acontecimento. Há também
outras formas alternativas de se fazer jornalismo e também subgêneros
dentro do jornalismo, como o gonzo, onde não se difere o fato da ficção,
o romance-reportagem e a biografia, por exemplo.
Referências
A (im)pertinência da denominação "jornalismo literário", Vitor Necchi
O jornalismo Literário como gênero e conceito, Felipe Pena
Post originalmente publicado no blog da disciplina Projetos A2 (s2) do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Orientador: Prof. Doutor César Guimarães. Monitora: Cacá Maia