30.7.12

Era uma vez um jornalismo [Caio Paranhos] #3

O jornalismo literário é um tema controverso pra quem o estuda, pra quem o faz, e talvez até pra quem o lê. É, a princípio, uma contradição: se é jornalismo não pode ser literatura, porque literatura trabalha com ficção e jornalismo com a verdade, ou pelo menos com aquilo que mais se aproxima dela. Dentro do que é mais plausível é melhor dizer que um dito jornalismo literário trabalha com os fatos de uma forma diferente, tanto pela forma como trabalha com eles quanto pela estética do texto. As pautas desse tipo de jornalismo buscam ser inovadoras, trazem questões e pontos de vista que o jornalismo padrão não explora, e além disso há uma preocupação com o estilo da narrativa, esse é aliás o ponto central: o jornalismo literário busca narrar. João Moreira Salles, fundador da piauí, diz inclusive que essa nomenclatura é inadequada e sugere o termo jornalismo narrativo, porque o adjetivo literário é restritivo e descretida o jornalismo. Nas mídias tradicionais em geral a cobertura é rasa, as entrevistas são feitas comodamente por e-mail ou telefone, as pautas não têm originalidade, os textos são mau escritos e não dão conta da complexidade dos acontecimentos. Acredito que o jornalismo literário (ou narrativo) parte da indignação com esse uso do jornalismo e com a vontade de se fazer um trabalho melhor. Ele não joga fora as técnicas da redação, apenas faz outro uso delas, tentando ultrapassar os limites do acontecimento. Há também outras formas alternativas de se fazer jornalismo e também subgêneros dentro do jornalismo, como o gonzo, onde não se difere o fato da ficção, o romance-reportagem e a biografia, por exemplo.


Referências

A (im)pertinência da denominação "jornalismo literário", Vitor Necchi
O jornalismo Literário como gênero e conceito, Felipe Pena


Post originalmente publicado no blog da disciplina Projetos A2 (s2) do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Orientador: Prof. Doutor César Guimarães. Monitora: Cacá Maia

22.7.12

Como um cão

Todas as pequenas coisas que você diz e faz... Esses dias o cão, aquele mesmo que você já tá cansado de ouvir os uivos e latidos, me contou uma coisa. Eu sei que já disse que ele não fala português, nem inglês, nem espanhol, nem nenhuma outra língua de gente, mas eu tenho minhas maneiras de compreendê-lo, ou de tentar, enfim. Ele me contou que esteve em casa, mas como ele pode ter uma casa se ele é um cão de rua, um vira-lata sem dono? Mas a rua veio depois de uma casa, ou está logo ali na frente dela, e você acaba tendo que passar pela rua pra entrar na casa. No fim das contas é um caminho. Então, ele me disse que esteve lá e foi adotado. Pela terceira ou quarta vez. Ele não cansa disso. Ou cansa, mas sempre tá aí, porque talvez ele pense que pode ser diferente. Ele sempre foge, ou expulsam ele de casa, e ele volta pra rua. Dessa vez não aconteceu nenhum dos dois, mas que coisa, ele continua sem dono. Que cão azarento do caralho. Mas são as circunstâncias, ou, bem, os níveis e graus de relação e vivência que a nossa sociedade de gente acaba levando pra sociedade dos cães. Aqueles que dependem sempre de nós. Mas o cão salvou. E isso fez bem pra ele. O cão ouviu dizer que vêm mais cãezinhos por aí. E isso não fez tão bem pra ele. O cão viu outros cães, o cão viu outras cadelas e até um cão que queria ser gato ele viu. E o mais engraçado é que o cão que queria ser gato pensou que ele era um gato. Olha o que a vontade não faz com as pessoas. Ops, com os cães.
Eu insisto em confundir.

Conrado Miguel

2.7.12

Tolo sem ouro

Um olhar estético sobre a vida te faz refletir: o que você quer, benzinho? No último fim de semana eu estive em Ouro Preto. "Não vou jogar essa bituca de cigarro nesse chão histórico", disse meu amigo. "Procure, então, uma lixeira histórica", respondi com meu senso de humor cada vez mais deteriorado. Pelo tempo e pelo vento. Diferentemente daqueles casarões repletos de verbas públicas. Mas que tem? Meu estômago também está cheio delas. Não fazer turismo numa cidade turística pode ser interessante se você não desperdiça a viagem com existencialismo. Ensina o coleguinha então, porque tá foda o negócio. Congresso de Ciências da Comunicação da Região Sudeste. Aposto que devia ter uns três nego lá que sabiam o nome do evento. Mas como a maioria, eu também não estava lá somente por ele.
Longe dos museus, não vou cantar meu estado como fazia Drummond e Sabino, nem andar sobre os arcos do viaduto Santa Tereza como também faziam eles, apesar de só me faltar a coragem. Nem sei se teria razões pra fazer isso se cada lugar desse lugar que eu conheço é tão diferente, e lembrar minha infância no Jequitinhonha às vezes me faz sentir sem lugar. Mas eu acabo criando simpatia por eles. Os lugares.
Cantar Ouro Preto não é algo que eu faria também. No máximo contar, mas bem... Deixa pra lá. Pri disse que talvez eu esteja encontrando mais possibilidades de expressão assim. E desculpe-me se te enfado com meu internalismo excessivo, mas... bem, por enquanto é isso.


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