17.2.13

A febre que não era de paixão, o batuque que não era de carnaval

Eu sempre penso na realidade, ou se ela existe, e que critérios ela tem para ser realidade caso exista. Eu pensava isso muito quando era mais novo, frenquentemente enquanto mijava. Mas não havia nada especial no ato, ou nenhuma relação do mijo com o pensamento, também acontecia em outras situações. Nunca parei pra pensar, mas talvez fosse em momentos em que eu tinha a oportunidade de parar e refletir sobre isso, como num momento em que não se pensa nada, apenas no que acontece de fato. Provavelmente vocês nunca experimentaram essa sensação (nem eu), mas quando você cai duma ponte (que seja baixa, para não ter sangue, nem morte, nem machucado) num rio, no que você pensa? Em nada, não pensa em nada, só vive a queda. Vi isso num filme e não sei se é verdade, mas quero acreditar. Porque nós, vocês sabem, acreditamos naquilo que queremos, ou na fonte de informação que julgamos mais confiável, ou seja, naquilo que queremos. Que nem quando você lê nas notícias que uma foto era espontânea, aquela famosinha que o marinheiro beija a moça, mas depois seu professor de fotografia diz que ela foi ensaiada (pediram pro cara beijar a moça!), e aí perde a essência. Eu prefiro acreditar no homi, deve ser por isso que falam que sou ingênuo, mas bem, eu estava no mijo. Não que quando mijamos não pensamos em nada, mas quando você está lá, de pé no vaso (ou no mato, ou no poste, ou no mictório, menos no chuveiro porque chuveiro tem outras coisas envolvidas, no caso, banho) com a urina saindo do seu pau, você não pensa em muita coisa, pensa no mijo, porque está concentrado em urinar, talvez pense em algumas outras coisas triviais, mas não perde a concentração. Porque mesmo que mijar seja algo que fazemos muitas vezes ao longo do dia, é algo no qual nos concentramos, e é algo que nos dá prazer. Tenho quase certeza que nossos maiores prazeres são as satisfações das nossas necessidades físicas: comer, mijar, cagar. Também foder, beber água, só não queria perder o trocadilho, e dormir. Quanto maior é a vontade, maior é o prazer em realizá-la. Nada como uma mijada depois de três cervejas Parece que não acaba nunca o jato. Imagina se uma gozada durasse esse tempo todo, hem? Mas aí nessas horas eu pensava mesmo nessas coisas existencialistas, por isso aí talvez. Agora tô com febre. Queria que fosse de paixão, mas deve ser dengue mesmo. E nem sei se o tum tum que tá na minha cabeça agora é real, como as preocupações da mijada. Não deve ser bloco de carnaval porque hoje não tem mais. Talvez seja a dor de cabeça, mas acho que deve ser o coração que ouvi mais cedo ainda ressoando aqui. Se não for fica sendo. Prefiro acreditar assim.
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