Muito mais que uma foto na hora
Uma mulher mostrava fotos para quem passava na praça Sete, Belo Horizonte, em frente Unidade de Atendimento Integrada, aquele lugar em que você pode tirar quase qualquer documento de que precisa. Ela gritava “Foto na hora!” aquele bordão que quem passa por lá já está acostumado a ouvir, assim como, em outros pontos do centro, os gritos de “Dentista!”, “Chip da Ooooooooooooooooi!”, e de outros serviços. A propaganda sonora, no grito, clássica e barata. Simples e direta, que parece desesperada. Desesperada não é, mas fundamental para o negócio sim.
Para algumas pessoas ela oferecia a foto pessoalmente, “Foto, moça?”, mas quando me aproximei ela não falou nada comigo. Tive eu mesmo que pedir, “quero foto”. Ela pareceu contente com meu pedido e me conduziu para o quarteirão fechado Krenak, ali mesmo na praça. Subimos as escadas para um dos edifícios, cuja porta era ocupada por um chaveiro e amolador de alicates. Nos degraus da escada via-se anúncios de dentista e salão de beleza. Subimos uma escadaria curta e viramos à direita na varanda.
Flash! Era esse o lugar. O lugar era uma sala comum com as paredes pintadas de branco e rosa. No meio da sala tinha uma cabine feita de divisórias de compensado, com uma cadeira no meio e uma câmera digital sobre um tripé à frente. Era lá que as fotos eram tiradas. O lugar era decorado com fotos de pessoas, tiradas lá evidentemente, e pôsteres com salmos. Havia também lá, um espelho e pentes e escovas à disposição dos descabelados. O que era o meu caso, mas dispensei a cortesia. Tinha mais gente esperando na minha frente, mas o lugar não estava cheio.
Quando chegou minha vez, a moça que me acompanhou e permaneceu lá até eu tirar minha foto, me chamou até a cabine. Lá o fotógrafo, um rapaz jovem e magro que também era caixa, perguntou se era só foto 3X4 mesmo. “Pra documento, né?” Disse que sim. Ele pediu pra eu tirar meu pingente, olhou no visor da câmera, foi até mim, ajeitou meus ombros e minha cabeça e só então bateu a foto. Esperei algo que pareceu uns dez minutos até ter minha foto impressa na minha frente e cortada com um cortador de papel. Paguei quinze reais. Achei caro. Antes de sair, a mulher que me levou até lá me deu um pedaço de emborrachado roxo, e pediu pra eu entregar no caixa ao pagar. Essa cor representava a sua comissão no fim do dia. Cada anunciante tinha uma. Enquanto esperava minha foto ser revelada, eu vi uma mulher arrumar o cabelo rebelde do filho adolescente e outra comentando que uma das integrantes do Bonde das Maravilhas tinha morrido com o pescoço quebrado.
Desci até a praça e tomei um lugar pra observá-los. Eles se conhecem, alguns trabalham fumando. Notei um padrão: eles ficam conversando até o sinal dos pedestres abrir, quando vem aquele mar de gente, e começam a abanar as fotos e gritar. Parece um transe, eles interrompem qualquer assunto, até mesmo uma briga, para fazer a propaganda, depois voltam a conversar como se nada tivesse acontecido.
Não é muita gente que parece se interessar pelo serviço. A maioria das pessoas já chega com as fotos prontas para tirar os documentos. Com uma qualidade técnica melhor e menos correria. As pessoas que tiram essas fotos são simples como as que anunciam. Observei ainda mais um lugar, no mesmo edifício onde eu tinha ido, porém na direção oposta do corredor. O ambiente era muito parecido, mas desta vez com um cartaz que prometia fotos em dois minutos. Não quis pagar pra ver. Da varanda, lá do alto, a vista da praça Sete é muito bonita. Dá pra ver todos os prédios, o trânsito e eles, as pessoas que anunciam, as que passam, as que trabalham ali. Os habitantes do centro.