podemos ter o dinheiro mas não podemos ter o amor desejado. podemos ter o amor e o dinheiro falta. podemos amar e querer mais o amor e mais outros amores. quantos? quantos couberem no vazio impreenchível. alguns hão de querer um pouco de tudo. alguns vão querer trabalho, dinheiro, o prazer que houver. ele vem de tantos lugares, de qualquer lugar pode vir. mas não vamos recebê-lo de qualquer jeito. satisfação: o que nos impede de fazer todo o resto. satisfação distorce a relação com o mundo, satisfação limita e motiva. não podemos ter tudo.
25.5.15
20.5.15
a verdadeira história de dona neidinha e seu dário
a lua vem nascendo, redonda que nem um quiabo. oh, lua, me dá um sabãozinho d'eu lavar minhas roupinhas. essas palavras que me lembro vagamente que vovó cantava quando a gente era neném, com o bracinho estendido pra lua. naquele terreiro grande com o cimento quente mesmo de noite. aquele céu tão negro e pontilhado.
vovó quando vem pra capital fica doidinha, inquieta, ajeita todo o apartamento e não acha mais o que fazer, vai fazer fuxico. já tantas colchas que ela nem sabe mais. quando vovó volta pra casa ela se sente melhor, mas às vezes anda tão só naquele casarão que só fica cheio nas férias quando vem os filhos e os netos. duas vezes por ano ela vai pra roça, dar uma ajeitada na sede, ver o vaqueiro, encontrar dona jacinta e as outras comadres e os compadres. às vezes ela vai pra praia, mas fica só de roupa sentada. lembro quando vovó resolveu entrar no mar e tomou um caldo que a gente ri até hoje. vovó também vai pra bom jesus da lapa de vez em quando, pra rezar, aí aproveita e dá uma passada no sertão, rio de contas, livramento de nossa senhora, marcolino moura, pra visitar os parentes de vovô dário.
vovô dário vem da bahia, ele viajava com tropa, aí comprou terra na região e foi morar no rubim. lá ele viu vovó e falou, é com essa que eu vou casar. ela tinha 16 e ele, quase o dobro. eles tiveram sete filhos juntos. quando chegou a hora vovó deve ter pensado, que nome eu vou dar pra esse tanto de gente? aí botou ubiratan, ubiraci e ubiralene nos homens, marilene, milene, marlene e marineide nas mulheres. combinando fica mais fácil. mamãe é a última filha. quando o primeiro filho nasceu, vovó tinha 17 anos, ainda era costume brincar de boneca e ela era bem sapeca. quando o filho dormiu ela vestiu uma roupinha branca nele, cruzou as mãozinhas em cima do peito, deitou ele na mesa e acendeu uma vela, como se tivesse morrido. depois escondeu pra rir da cara de quem chegasse primeiro e visse aquilo.
vovó e vovô moravam no rasta-couro, uma pracinha no rubim que na época nem sei se já era praça. depois arrumaram um sítio na beirinha da cidade e foram morar lá. viviam da renda do gado das duas fazendas, poço preto e córrego seco. vovó era muito trabalhadeira, fazia tudo o que era serviço de casa e cuidava dos filhos. depois que vovô morreu tudo ficou muito diferente, o tempo foi passando, natal esvaziou, tia foi virando avó, primos foram caindo no mundo, indo morar longe, se perdendo por aí. vovó viu tudo, sabe de tudo que aconteceu e que acontece com aquela família grande, os sucessos de cada neto, as tristezas de cada filho, as andanças, tudo, tudo. uma dia ela estava fazendo a unha quando um avião passou no céu. quando avião passa no céu do rubim é evento, todo o mundo corre pra ver. aí vovó confessou que um dia queria andar num trem daquele. tanta vida dura, tanta labuta e ainda sonhos, e ainda vontades.
vovó quando vem pra capital fica doidinha, inquieta, ajeita todo o apartamento e não acha mais o que fazer, vai fazer fuxico. já tantas colchas que ela nem sabe mais. quando vovó volta pra casa ela se sente melhor, mas às vezes anda tão só naquele casarão que só fica cheio nas férias quando vem os filhos e os netos. duas vezes por ano ela vai pra roça, dar uma ajeitada na sede, ver o vaqueiro, encontrar dona jacinta e as outras comadres e os compadres. às vezes ela vai pra praia, mas fica só de roupa sentada. lembro quando vovó resolveu entrar no mar e tomou um caldo que a gente ri até hoje. vovó também vai pra bom jesus da lapa de vez em quando, pra rezar, aí aproveita e dá uma passada no sertão, rio de contas, livramento de nossa senhora, marcolino moura, pra visitar os parentes de vovô dário.
vovô dário vem da bahia, ele viajava com tropa, aí comprou terra na região e foi morar no rubim. lá ele viu vovó e falou, é com essa que eu vou casar. ela tinha 16 e ele, quase o dobro. eles tiveram sete filhos juntos. quando chegou a hora vovó deve ter pensado, que nome eu vou dar pra esse tanto de gente? aí botou ubiratan, ubiraci e ubiralene nos homens, marilene, milene, marlene e marineide nas mulheres. combinando fica mais fácil. mamãe é a última filha. quando o primeiro filho nasceu, vovó tinha 17 anos, ainda era costume brincar de boneca e ela era bem sapeca. quando o filho dormiu ela vestiu uma roupinha branca nele, cruzou as mãozinhas em cima do peito, deitou ele na mesa e acendeu uma vela, como se tivesse morrido. depois escondeu pra rir da cara de quem chegasse primeiro e visse aquilo.
vovó e vovô moravam no rasta-couro, uma pracinha no rubim que na época nem sei se já era praça. depois arrumaram um sítio na beirinha da cidade e foram morar lá. viviam da renda do gado das duas fazendas, poço preto e córrego seco. vovó era muito trabalhadeira, fazia tudo o que era serviço de casa e cuidava dos filhos. depois que vovô morreu tudo ficou muito diferente, o tempo foi passando, natal esvaziou, tia foi virando avó, primos foram caindo no mundo, indo morar longe, se perdendo por aí. vovó viu tudo, sabe de tudo que aconteceu e que acontece com aquela família grande, os sucessos de cada neto, as tristezas de cada filho, as andanças, tudo, tudo. uma dia ela estava fazendo a unha quando um avião passou no céu. quando avião passa no céu do rubim é evento, todo o mundo corre pra ver. aí vovó confessou que um dia queria andar num trem daquele. tanta vida dura, tanta labuta e ainda sonhos, e ainda vontades.
8.5.15
gente ao redor #2
eu ouço o alarme do carro fechando e já sei que chegou em casa. às vezes eu me preparo, nem sempre eu quero que ela chegue. sua presença é muito forte e pode ser que incomode. tem uma coisa de fechada, inacessível, inalcançável. difícil entender um pouco. fico pensando se não sou um pouco assim também, sério demais. talvez seja uma combinação de nós dois assim: sérios e por vezes fechados. poderemos apenas curtir o momento?
tem seus universos, mas nenhum supera lucca. ela sem ele e ela com ele são pessoas completamente diferentes. lucca: grande mundo ao qual deve-se dedicar ou apenas refugiar-se. tenho a sensação de que as relações em que as pessoas se isolam não podem ser saudáveis. mas ela quando quer abrir-se é outra pessoa. quando nos deixa vislumbrar um pouco do que traz por dentro e ri e fala coisas que todos falam. difícil de conviver, mas é bom. não deixa de ser bom.
tem seus universos, mas nenhum supera lucca. ela sem ele e ela com ele são pessoas completamente diferentes. lucca: grande mundo ao qual deve-se dedicar ou apenas refugiar-se. tenho a sensação de que as relações em que as pessoas se isolam não podem ser saudáveis. mas ela quando quer abrir-se é outra pessoa. quando nos deixa vislumbrar um pouco do que traz por dentro e ri e fala coisas que todos falam. difícil de conviver, mas é bom. não deixa de ser bom.
Assinar:
Postagens (Atom)