hoje você não está muito pra conversa, parece. essa banda é meio mole, bem sem graça: como você. tem gente que confunde apatia com elegância, antipatia com sorriso. e aquele existencialismo de promoção, as dúvidas sobre tudo o que te cerca como se o problema estivesse em outro lugar. já ouvi isso algumas vezes. a noite tem seus tipos, os ciclos vêm. os egoístas, os ironicosarcásticos, os monogâmicos possessivos. cada quem com sua neurose típica e esperada; com sua colocação própria; às vezes até o corpo segue um padrão. surpresa nenhuma, meu bem. nessa vida a gente aposta pra acertar e esse jogo eu já conheço. o mercado é previsível.
eu abro a vastidão do meu vazio se você me mostrar o seu primeiro. vamos ver qual é mais profundo.
vou ser sincero, estou aqui pra te julgar. não passo fio dental à toa.
23.11.15
fracto livre mente
era uma sensação maravilhosa: a liberdade. a realidade era muito mais complexa e às vezes a sensação não correspondia a ela; mas poder viver isso também era ser livre.
dessa vez eu não estava triste por estar sozinho. entrei num ônibus em distração, e de repente, quando percebi, estava subindo no teto. fiquei ali em cima, me equilibrando com o meu corpo, sentindo a noite fresca que depois ficou fria. as pessoas olhavam com espanto, provavelmente pensando: loucura. eu as via de cima confundidas com as luzes borradas da cidade. elas eram pessoas ou eram cidade, eu quem era. cidade que eu atravessava ligeiro na velocidade do ônibus, comum e usual; eu atravessava a cidade que me atravessa e que fica em mim todos os dias. pela primeira vez eu desafiei o caos perfeitamente ordenado; a rocha, o barro e a madeira; o sono mal dormido; o silêncio inquieto. acordando sonolento. doce pesadelo urbano.
vi um pouco além; eu em movimento, vendo o mundo mover e sentindo essa coisa aqui dentro, sem forma ou direção, tomar um rumo também. pela primeira vez em muito tempo me senti livre de mim mesmo. e assim, dessa maneira, me entregando de tal modo a mim, passando agressivo pela urbe em vez de passar pelos meus próprios crivos, que, ao final, apenas me paralisam. dessa vez a eterna surpresa não me pegou. transformei a surpresa em liberdade vivida, em potência perene.
o ônibus parou mas eu segui.
dessa vez eu não estava triste por estar sozinho. entrei num ônibus em distração, e de repente, quando percebi, estava subindo no teto. fiquei ali em cima, me equilibrando com o meu corpo, sentindo a noite fresca que depois ficou fria. as pessoas olhavam com espanto, provavelmente pensando: loucura. eu as via de cima confundidas com as luzes borradas da cidade. elas eram pessoas ou eram cidade, eu quem era. cidade que eu atravessava ligeiro na velocidade do ônibus, comum e usual; eu atravessava a cidade que me atravessa e que fica em mim todos os dias. pela primeira vez eu desafiei o caos perfeitamente ordenado; a rocha, o barro e a madeira; o sono mal dormido; o silêncio inquieto. acordando sonolento. doce pesadelo urbano.
vi um pouco além; eu em movimento, vendo o mundo mover e sentindo essa coisa aqui dentro, sem forma ou direção, tomar um rumo também. pela primeira vez em muito tempo me senti livre de mim mesmo. e assim, dessa maneira, me entregando de tal modo a mim, passando agressivo pela urbe em vez de passar pelos meus próprios crivos, que, ao final, apenas me paralisam. dessa vez a eterna surpresa não me pegou. transformei a surpresa em liberdade vivida, em potência perene.
o ônibus parou mas eu segui.
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