17.9.10

Dever de casa

Hoje na aula de Produção de Texto me pediram para produzir um texto. Absolutamente surpreso com o pedido, não produzi o texto, porque acho que nas aulas de hoje, com essa nova educação interdisciplinar, as disciplinas estão perdendo muito da sua própria essência, não é? Daqui a pouco vão estar me pedindo pra calcular nas aulas de Matemática e pra filosofar nas aulas de Filosofia. Não me acostumo mesmo com essas novidades, eu tenho uma cabeça muito arraigada aos princípios, sabe. A minha avó está aqui em casa e ficamos ambos perplexos quando vimos hoje na TV uma mulher jogando sinuca. Mas voltando à aula, eu realmente não produzi o texto, que devia ser sobre os jovens de hoje, porque preferi discutir com meus colegas sobre o assunto, discutir é eufemismo, já que monopolizei a conversa; mas enfim, tenta-se. Essa proposta é muito metalinguística pois é o jovem falando do próprio jovem, pensando nessa linha bastava que eu escrevesse sobre minha própria vida. Mas eu não sou o único jovem no mundo, ou seja, preciso pensar em linhas gerais. Só que não tão gerais, diminua mundo para Brasil, vamos tratar apenas do jovem nacional. Bem, quem são os jovens? Qual a idade mínima e a máxima pra se ser considerado um jovem? Naqueles textinhos inspiradores que eles sempre dão, aliás muito ilusórios esses em questão, considera-se o jovem com uma idade média entre 15 e 24 anos, tudo bem. Deixe-me agora expor minha análise. Os jovens hoje tentam (ou os jovens sempre tentaram) se encontrar dentro de si próprios, mas eles são seres em transformação fervilhante e se encontrar nesse caso torna-se mais difícil que o normal. Aproveitando-se desse momento frágil a indústria capitalista entra com uma coisa chamada moda, que puxa uma linha longa com a mídia e reflete tendências. Já que não se viram dentro de si, os jovens veem aí uma boa oportunidade para acharem-se e seguem essa indústria como ratos hipnotizados seguem o flautista mágico. Um outro grupo de jovens, analisando mal esse sistema, começa uma contracultura da moda que serve apenas para alimentá-la ainda mais. Eles odeiam a banda R e o livro C apenas porque eles são a banda R e o livro C, e não percebem que estão se tornando aquilo que criticam e não se diferem em nada dos seus criticados. Mas ainda há aqueles jovens que sabem que não estão invulneráveis a nada, nem à moda, muito menos à contramoda-moda, mas eles fazem o que é de mais sensato, que é serem indiferentes a isso. Surge aí outra indústria também capitalista, mas com um viés mais artístico, já que na moda e na contramoda-moda perde-se um pouco de qualidade. Essa indústria não é seguida por ninguém, já que os jovens que a apreciam, mesmo não tendo se encontrado dentro de si, sabem que não é nos outros que farão isso, e aí temos a juventude resgatada, aquela que é despreocupada, inconsequente, alegre e, essencialmente jovem.
É claro que essa visão é generalizada e simplificada, aí dentro incontáveis outras tendências são encontradas e coisas muito mais complexas para se debater em textos de autores amadores também. Mas é o que eu disse, tenta-se. Abaixo eu postei um vídeo de um trabalho também de Produção de Texto, cujo tema era Texto em vídeo e o gênero escolhido por nós foi o videoclipe. Espero que gostem.

Videoclipe - Down from Paulo Henrique Paulino on Vimeo.


Ah, eu disse que os textinhos inspiradores eram ilusórios porque eles diziam que os jovens nunca foram tão voluntários e nunca se preocuparam tanto com questões como educação e saúde. Realmente devem existir esses animais em extinção. Mas fala sério, a única coisa voluntária que a maioria dos jovens faz hoje em dia é punheta e siririca. A verdade é dura.

10.9.10

FAQ (Dúvidas de português)

Alguns dizem que quando veem um erro de português dói-lhes alguma parte do corpo, o coração deve ser o órgão mais afetado, e se os exageros fossem reais, viveríamos num país de infartados. Dores já não sinto mais, mas não há como ver um erro e não pensar algo como "ai que burro, dá zero pra ele". Só que ninguém está invulnerável aos erros, e muitas vezes eles podem ser até propozitais, dependento do seu objetivo comunicativo. O ensino de português nas escolas hoje é muito deficiente, já que não se cultiva a paixão e não se transpõe o aprendido para a vida prática, por que muitas vezes, os exemplos aprendidos na escola, jamais usá-los-ei no cotidiano. Por isso deveria existir anexo à língua culta, o estudo específico do português falado ou popular, descrevendo suas características realmente a fundo, onde os alunos poderiam saber por que aprenderam na escola que o correto é dizer Quando eu te vir, se em casa ou na rua dizem Quando eu te ver. Porque os fenômenos estão aí e não dá pra ignorar. Outro problema nesse sentido são os professores, sabe, ensinar é uma arte, mas há poucos artistas nas salas de aula. O meu, por exemplo, está mais interessado em exibir sua coleção de All Stars do que em contribuir para o real aprendizado da turma, e sobre esse não basta decorar regras, a língua é muito mais do que isso, ela é sentida e vivida. Mas sou grato às minhas primeiras professoras que souberam cultivar em mim a paixão pela língua e o prazer em aprender português. Agora com esse acordo ortográfico seria bom um pouco mais de apoio, mas até que estou conseguindo me sair bem com meus estudos autônomos.
Estudos autônomos, que merda, como se eu estudasse mesmo.

1.9.10

Liberdade confundida

O presidente enviou um projeto de lei pro Congresso que criminaliza os castigos físicos. E numa conjuntura onde palavrões foram proibidos nos estádios e o humor foi proibido na política, a lei soou como uma repressão, como a supressão de um direito e criou uma polêmica sem sentido. Pra começar, o que é um direito? Bem, se eu tenho o direito de bater, e o seu direito de não apanhar? Deve-se pensar na liberdade não como um conceito individual, e sim coletivo. A lei não é de forma alguma, antidemocrática, anticostitucional, e não fere os direitos de ninguém. Ao revés, ela protege um classe que não tem voz e que está à mercê dos pais, que podem ser o protótipo bombástico do amor, a personificação do descaso ou apenas pais. Eu já apanhei e posso dizer que não aprendi nada com isso. E se a Xuxa me perguntar se eu não aprendi que devo resolver meus problemas com violência, eu digo que não, isso eu já sabia que não devia fazer mesmo quando era baixinho, crianças são espertas. Se eu aprendi algo, foi que as pessoas muitas vezes se deixam dominar pelos impulsos, esquecendo-se da sensatez e da razão.
Mas se a discussão é sobre direitos, vamos lá, todos temos o direito de optar por ter filhos ou não, de constituir uma família ou não, de planejar ou não. E se fizemos algo, mesmo que tenha sido por pura incosequência (e é aí que muitos bebês nascem, infortunadamente), temos o dever de lidar com as consequências. A lei não vai mudar muita coisa, muito menos resolver esse problema. Mas é um primeiro passo na construção de uma sociedade mais justa, educada, igual e, sobretudo, amorosa. E ao se questionar direitos, deve-se pensar primeiro nos deveres.
Abaixo, uma amostra da minha caligrafia. Eu acho que devia isso pra vocês há uns dois anos.


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