26.2.11

Ensaio sobre o suicídio

O tempo todo ouço pessoas dizendo, põe na mão de Deus, mas, Deus, eu tenho mãos.

Matar-se não deve ser visto como um ato de covardia, ele é uma faca de dois gumes. Você pode ser covarde por querer escapar dos problemas, mas precisa de extrema coragem para encarar o desconhecido. No final, o que todos queremos é o alívio. É como pôr uma simples questão de desenho animado diante de si: Renda-se agora ou prepare-se para lutar. Você escolhe lutar, para estender nosso poder às estrelas, mas acaba rendido porque as estrelas estão longe demais. Cada pessoa tem uma razão pra fazer isso. E pra nós que nunca vivemos um milésimo dos problemas do mundo é fácil sentir dó. Pessoas têm distúrbios, problemas, são emocionalmente fracas.
Você não pediu para estar aqui, então se não quiser ficar, pode sair a qualquer momento. Sartre dizia que somos reféns da nossa própria liberdade, mas se somos reféns, como podemos ser livres? Nós somos prisioneiros de nós mesmos, não da liberdade; esta está presente apenas nas coisas pequenas e aparentes, mas na minha essência quem posso ser além de mim? E se eu não sou eu, gostaria de descobrir quem sou; e nessa busca interminável talvez encontrar outra(s) pessoa(s).
Talvez seja melhor para um casal de filhos ter um pai ausente do que ver um pai agonizando e não poder fazer nada. Eu disse talvez, porque não sei nem posso saber. Seria egoísmo da parte dele querer abandonar a família, mas também seria egoísmo da família não querer abandoná-lo.
As pessoas têm medo da própria alma, e, guiadas por sua fraqueza acabam por incompreender e subjugar quem mais precisa de compreensão e quem menos precisa de julgamento. A morte não deve ser encarada como algo negativo, seja qual for a sua crença do que aconteça depois dela, mas como uma parte da vida, o ponto final da nossa viagem errante na rodovia do mundo.
Mas por um lado é bom que a vida não tenha nenhum objetivo. Se ela tivesse, nós apenas o cumpriríamos e pronto, nada teria mais graça. É melhor assim, sem rumo, sem razão, sem sentido; só vivendo e vendo morrer, e assim sucessivamente até o fim de nossas consciências. E até quanto a isso não podemos estar certos. O conhecimento pleno é algo inalcançável a nós. E assim deve ser. Seríamos mais felizes se não soubéssemos, mas espera, não sabemos.

Eu estive em contato com uma pessoa que desejava se matar. Ela estava em depressão e todos os seus rancores guardados e traumas de infância estavam à tona. Diversas vezes ela saia de casa e era encontrada horas depois, no meio do mato, chorando à beira de algum córrego ou apenas andando.
Sempre aparecem os místicos, pessoas dizendo que têm a salvação ou libertação, como dizem, naquele vocabulário que eles nem mesmo têm a capacidade de modificar.
E depois de um tempo você vê aquela pessoa, tomando remédios, mas você não é capaz de reconhecê-la, ela não está mais ali. Tem um ar cansado, menos brilho nos olhos, menos tudo. Nesses momentos você pensa em como o nosso sistema oprime, como se a vida fosse absoluta e qualquer coisa feita para interrompê-la, um mal sem precedentes. É esse o verdadeiro mal estar na "cinilização".
É, rapaz, a vida é muito mais complexa do que você pensa. E nesse emaranhado de medicamentos, fibras óticas, crucifixos, plástico e suicidas, estamos nós.

25.2.11

#decepção

Universidade Federal de Juiz de Fora
Por causa de um maldito décimo eu não entrei no primeiro semestre, reparem num tal de Igor. Tomara que a sorte copere a meu favor, porque não estou a fim de ficar quase seis meses à toa. Já recebi propostas de emprego para peão e estou profundamente tentado a aceitar.
Com licença, vou ficar alguns dias em depressão e depois me matar, volto logo.

22.2.11

Corações Cariocas




Já que o assunto é logomarcas deixe-me falar de Rio 2016. O novo símbolo não é mau, o desenho é bem versátil, moderno, tridimensionalizável, leve, dá pra ver nele a palavra Rio, um coração e o Pão de Açúcar, e soa bem aos olhos apesar de usar degradê, que não é um efeito que me agrada muito. Mas usar bonecos de mãos dadas já está bem batido e foi exatamente isso que me decepcionou. Talvez um agravante tenha sido a marca da candidatura que tem um desenho espetacular e só é negativo na tipografia, que é muito grande.
Mas estou reclamando de barriga cheia, pelo menos não temos isto:



Oh, Deus! mas temos isso T_T :

Será que dá pra eleger a pior?

16.2.11

Shakespeare Rousseff

Ser ou não ser igual, eis a questão.

Viram a nova logomarca do governo federal que os marqueteitos da presidenta deram de presente a ela? Não sei, mas na minha opinião leiga a marca é fraca, sem criatividade e o slogan é vazio e irreal. Além de salientar apenas um lado de vários problemas que o país enfrenta.
Menina, não me diga que país rico é país sem pobreza, jura? Qual vai ser a próxima, país pobre é país sem riqueza?
Tsc.

Sobre o assunto logomarcas, recomendo seriamente o blog Logoeca 2014.

15.2.11

Hosni MuBara(c)k Obama

Eu queria estar no Egito agora. Mas não como um turista estrangeiro, eu queria ser um cidadão egípcio, pra presenciar uma revolução, pra sentir uma mudança. Pra ver se muda mesmo. A liberdade é um sonho pra qualquer um, é algo pelo qual homens morrem e matam, mas na maioria das vezes morremos à toa. Eu nunca vivi sob uma ditadura, não sei o que é censura prévia, nem supressão dos direitos individuais. Mas eu estudo história, converso com pessoas e sei que não é algo que ninguém deseja. O Egito faz muito bem em se libertar, essa liberdade vale ouro. Mas até que ponto ela vai? O poder foi entregue aos militares, que não nos trazem boas lembranças, mas não vale julgar, são realidades diferentes. Militares que recebiam ajuda financeira dos EUA e vão continuar a receber, dizem que eles sempre estiveram muito próximos da ditadura. O pior que pode acontecer é instalar-se uma teocracia islâmica, e isso seria realmente muito pior. Mas o que deve-se condenar é o discurso hipócrita dos defensores-mor da liberdade. Um país que sempre diz e faz o que lhe convém, o mesmo país que apoiou as ditaduras latino-americanas e agora diz o quão importante é a democracia. A santa democracia. Mas assim como uma imagem de barro, ela é falsa. Os EUA, que condenam veemente as armas nucleares do Irã e abrem uma reunião no conselho de segurança da ONU sobre o assunto a qualquer momento; mas ninguém abre discussão alguma sobre as armas que os Estados Unidos possuem, sobre os direitos humanos que eles desrespeitam em guerras disfarçadas por pretextos nobres, mas que são movidas por razões econômicas. Mas no final é isso, manda quem pode, obedece quem tem juízo. A situação egípcia é melhor que antes, mas não será boa o suficiente.
Aqui, no Egito e em qualquer lugar, todos clamamos por liberdade, mas só o que ganhamos é ilusão.

E pra quem tem boa memória.

13.2.11

Coelhinho, se eu fosse como tu...

De féria em Montes Claros, passeando com uma tia postiça. Nos supermercados ela queria colocar cada produto numa sacola plástica diferente. Dizíamos pra ela que era antiecológico.
-- Sabe o que é ecológico?
-- ...
-- Meu cu.
É, rapaz, enquanto continuarmos achando que apenas o nosso cu é ecológico ainda vamos fazer muita merda no mundo.

8.2.11

No ponto de cru

Só queria dizer algo breve sobre a crueza. A crueza nos livros, filmes e na arte em geral. Ela pode ser boa ou ruim. Por exemplo, um documentário deve ser cru, e é essa fidelidade em mostrar a realidade que garante a sua qualidade; a edição mais contida, talvez o silêncio de uma trilha sonora, tudo isso ajuda muito se há sensibilidade. Mas num romance a crueza pode ser má, pois passa a sensação de que a obra não foi bem trabalhada, nesse caso ela é desfavorável. Mas hei de me surpreender, talvez, com um documentário bem cozido ou um romance cru, nunca se sabe, existem artistas tão fabulosos que são capazes de quebrar qualquer convenção, regrinha ou opinião. Assim espero.

Ah, se me cheirassem assim todo dia, talvez eu deixasse até passar um pouco do ponto.
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