Hoje na aula de História da Cultura, a professora Adriana Romeiro, numa espécie de desabafo exaltado sobre o que realmente é e pra que serve a arte, disse que não se pode comparar uma carranca feita no Vale do Jequitinhonha com a Mona Lisa. Eu, com minha camiseta do grupo de teatro de Araçuaí, Ícaros do Vale, fiquei até encolhido. Longe de querer entrar nessa discussão, sobre o que é arte, o que é artesanato e qual o papel de cada um, eu sou apenas fascinado pelas culturas populares. Sempre lamento a distância que a Academia se encontra da sociedade, e uma disciplina que poderia explorar melhor a cultura do povo, nada mais é do que uma História da Arte sem critérios.
Recentemente estive em Araçuaí, e a camiseta é lembrança disso, no médio Vale do Jequitinhonha. Era a primeira vez que eu visitava a cidade e fiquei fascinado por ela. Não é nem de longe a cidade mais bonita do vale, infelizmente não há preocupação em se preservar o patrimônio histórico, mas é uma cidade interessantíssima, e, sem dúvida, a mais quente e com a maior movimentação cultural do vale todo.
Quando eu morava em Almenara (ano passado, han, nem tem tanto tempo), o que os jovens mais reclamavam era da falta de opção de lazer e cultura. Em Almenara realmente há essa falta, mas eu me questiono se os jovens iriam se contentar com uma expressão cultural local, ou iriam querer um Cinemark.
Araçuaí quebra todos os padrões, é um lugar onde a fomentação cultural é grande, e as pessoas valorizam isso. Não todos, lógico, a cultura de verdade ainda interessa a poucos, é mais fácil ser repetitivo, ouvir a música pop com a primeira parte, refrão e bridge, o filme com a estética padronizada, tudo o que a gente tá acostumado e viciado. Em Araçuaí existe grupo de teatro, de artesãos, cinema, trovadores e muito mais. A cultura lá acontece e á valorizada. Numa região extremamente estereotipada pela imagem do sertanejo pobre, isso é importante, inclusive pra mostrar que o lugar é muito mais do que apenas isso. A arte, seja ela uma carranca ou a Mona Lisa, é importante como expressão, elas não são apenas distração ou abstração, mas de alguma forma, modificam nossa visão das coisas e daquilo que cerca a obra. O Vale do Jequitinhonha não precisa de esmola, precisa de valorização, precisa que seu próprio povo valorize sua cultura.
Ademais, pra quem quiser conhecer uma realidade fascinante e bucólica e curtir um sertão 35º, não há nada mais recomendável.