12.11.11

Vossa senhoria pode por favor considerar-se detido

Quando eu estudava Filosofia no ensino médio, eu pensava: "porra, Filosofia é tão legal, pena que eu preciso de uma apostila pra entender o que esses caras tão dizendo. A Filosofia fica restrita a quem tem uma carga cultural e literária grandes demais. Os filósofos deviam se preocupar mais em tornar sua mensagem acessível".
Ainda concordo comigo mais novo. Mas o problema dos intelectuais vai mais fundo que isso. Eles se sentem ou estão diferenciados do resto da população, dos ditos incultos. Como se fossem donos do conhecimento da sociedade, a cultura personificada, os semideuses das universidades.
É óbvio que eles não têm essa visão de si, até porque não são assim de verdade, mas são assim que aparecem e que o próprio sistema os coloca.
A ocupação da fefeleche mostra bem isso. Os campi universitários são tidos como lugares da fomentação intelectual, onde o pensamento floresce o tempo todo, e a expressão e o comportamento de quem é de lá não pode ser repreendido. Pelo menos não lá. Fumar maconha é algo extremamente corriqueiro e normal em ambientes assim, e principalmente em faculdades de ciências humanas. Aqui na Fafich da UFMG que equivale à FFLCH da USP, por exemplo, o cheiro de cigarro de palha está impregnado no prédio e faz parte da identidade do lugar, e é muito fácil também sentir o cheiro da cannabis nas proximidades do Diretório Acadêmico. 
A polícia no campus é vista como um vírus, não são alunos, nem professores, nem funcionários, são estranhos que não possuem nenhum vínculo com a comunidade a não ser um papel assinado chamado convênio. A universidade é uma grande comunidade e nós nos sentimos assim.
Mas a polícia, estando lá dentro, não pode tratar o campus como uma área especial onde as leis são diferentes. Se não pode fumar maconha no morro, também não pode na universidade, e se a polícia vê, tem que pegar. Já se sabe que não há prisão para usuários, más há advertência e aquelas bobagens de penas socioeducativas. A segurança normal da universidade não tem autoridade pra repreender dessa forma, ela apenas cuida da segurança de quem está lá dentro e adverte caso alguém esteja desrespeitando alguma coisa do tipo, estacionar em local indevido e tal. Isso é o ideal, e se a polícia se comportasse assim seria ótimo, mas não dá, porque ela não está a serviço do campus e sim da sociedade. Polícia é polícia, não é guarda.
Esses são os dois lados da questão, e os dois estão certos. Não dá pra ficar nessa crítica rasa de que os revoltados da USP são filhinhos de papai que se rebelam porque querem fumar maconha. A maconha simboliza toda a liberdade deles dentro do campus. E se são ricos, não têm culpa disso. A universidade é pública, entra quem se inscreve no vestibular e tem a capacidade de passar. Se apenas a elite consegue isso, é um problema estrutural da educação no país. E com todas as políticas superficiais de inclusão social nas universidades, é cada vez mais difícil pra eles entrar lá. A universidade é para o povo e não apenas pra classe C. Assim como a polícia não é polícia só pra classe C. E enquanto ela estiver no campus, deve continuar agindo como se estivesse na rua.


Nesse link um vídeo da presença catastrófica da polícia no Campus da Pampulha, apenas porque os alunos exibiram um filme sobre a maconha. E aqui, o blog e o twitter de um personagem muito comum em qualquer lugar: o pseudointelectual. (10 reais e um álbum de figurinhas do Rebelde pra quem descobrir quem é esse cara)

2 comentários:

  1. Caio, eu tenho medo que nosso país tenha entrado numa onda do protesto pelo protesto. Assim mesmo, sem um real motivo. Jovens acham mais fácil colocar uma imagem tola no facebook, ou sair por aí com placas, ou invadir uma reitoria... Mas o que isso realmente colabora para a melhoria da sociedade?

    E sobre filosofia, como você começou seu texto, eu adorava um quadro no Fantástico onde uma filósofa trazia para o nosso mundo real questões importantes. Era muito legal, de um programa que um dia já foi fantástico.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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