4.5.12

Eu te desamo

Eu já sabia escrever quando comecei. Acho que você também já sabia desenhar quando começou. É lógico que eu tinha um ideal, um ideal que foi mudando ao longo do tempo a partir da descrença. Deixa dessa tolice de admirar demais o desconhecido. O que será que é? Eu tô cansado dessas minhas emoções, e são elas que não estão cansadas de mudar. Eu te desamo porque te amo. Pra desamar tem que amar; o desamor é uma necessidade e o amor, uma vontade. Mas eu ainda penso que posso estar enganado, porque pode ser o contrário. Patinando nessa fina camada de gelo que é a vida, se você para, afunda. Ser profundo mata. Eis-me aqui, senhores. O meu pé quarenta e três não é maior que seu ego, o meu pau de vinte centímetros não preenche sua alma vazia, e quando eu entro no seu fabuloso mundinho eu saio logo depois. De solidão. Meus braços não abraçam seu desprezo, e mesmo se fossem grandes o bastante, sua pele dá choque. E seu cheiro, mesmo sendo bom, me dá asco, porque não sai de mim nem sei de mim. Nem sei se eu afirmaria de novo tudo isso, porque... O desamor é um exercício. E eu vomito. E meus cães me consolam.

Conrado Miguel 

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