Se quiser falar de amor, fale com o Marcinho. Vou te lambuzar, te encher de carinho.
Jesús Martín-Barbero considerava o receptor como totalmente ativo nos processos comunicacionais. O sentido não está no produto, mas sim na relação da produção com o receptor. Ou melhor, em suas relações. Sua aventura epistemológica foi, sobretudo, fazer uma teoria adequada ao contexto cultural, político e histórico da América Latina. E a partir disso ele trata de questões como o massivo e a cultura popular. A América Latina é, por excelência, extremamente mestiça, e é nessa mestiçagem que estão embasadas suas culturas. Os produtos chegam até o povo, ou até nós, e encontramos maneiras de nos apropriar disso, e aí entram as mediações e as brechas. A construção de sentido através da recepção leva em conta a institucionalidade, relações com os gêneros, marcadores como classe social, classe econômica, religião e até mesmo o lugar onde a TV se encontra na casa, por exemplo, e com quem se assiste. Além disso, as pessoas encontram nas mediações maneiras de fazer com que suas tradições populares culturais entrem no massivo, naquilo que é produzido por uma cultura hegemônica para eles. A dublagem de filmes e programas estrangeiros seria um exemplo disso, que logicamente vai muito além. A identificação étnica com personagens de telenovela, a maneira como as pessoas veem televisão, o que assistem, por quê e como se apropriam disso também são exemplos dessas relações. Mas Martín-Barbero não considera apenas o momento da recepção, mas também o que vem antes e depois dele. O que passou na TV ontem é a pauta de muitas conversas de hoje, além nas influências no consumo que isso traz. Enfim, Martín-Barbero se aventurou ao trazer o povo à tona, fazendo com que os processos de recepção sejam tão importantes ou ainda mais que os processos de produção. Para nossa alegria.