27.2.15

paraíso meu

eu sei que você não é nada perto de tudo o que pode ser, e eu tão pouco (nadica de nada). já ouvi dizer de gente que traz de volta o nosso amor, mas sempre senti que nunca ia precisar disso. já ouviu dizer que quando perdemos algo e não achamos é porque nunca foi mesmo nosso? não tenho que temer, tudo pode ser, nada vai acontecer. sorria, na nossa vida é alegria. quando o corpo junta é uma sintonia que sinto igual desde a primeira vez, sempre dá uma emoção e medinho tão gostoso. nossa força de amantes é também uma força de amizade e de compreensão. tudo combina, é tão lindo. as descobertas juntos são como pactos secretos que fizemos sem saber nem dizer nenhuma palavra, sequer veio à consciência, apenas sabemos. e quando o toque vem e acalma e daí a pouco já é incêndio e a saliva escorre pelo corpo junto com o suor que sobrou de nossa aventura perfeita e pessoal. alinhados à simetria mística da união caminhamos sobre a linha da dúvida do inevitável, da perenidade do efêmero, na velocidade da luz em câmera lenta dando voltas e voltas e voltas. não existe resultado e a ignorância define todo o resto. agora é o paraíso meu. é nosso. é ainda nada perto de tudo o que pode ser.

25.2.15

gente ao redor #1: luisa

a menina que não toma leite e chora à toa.

esses dias me peguei na sua cama, abraçadinhos, com você chorando no meu ombro e eu te contando como é especial. ontem você fez muito quibe, nunca vi tanto quibe, e me ofereceu pra comer. hoje comi muito quibe de novo. você me ensinou a comer e a cozinhar sem leite e achar tudo muito gostoso. hoje eu acho a coisa mais legal falar: essa comida foi feita com 0 leite (e como é difícil achar comidas assim). há alguns meses me peguei sentado com você no lua nova e depois no piolho, tomando brahma, falando mal de bh e da nossa vontade de cair no mundo, ouvindo histórias ainda boas do outro caio. há alguns meses eu te via no seu quarto e eu no meu e tinha vontade de entrar pra prosar à toa, mas tinha vergonha. hoje tenho menos. e pensar que há mais tempo ainda você era a princesinha e eu era o pão duro e não nos dávamos. eu tinha ciúme de zé e você também. ainda bem que agora somos irmãos e te conto tudo. você, tão parecida comigo e eu caminhando por aí te achei dando sopa e combinou justo com o que eu precisava. ainda bem que mudamos tanto, pois nos vemos hoje e nem nos reconhecemos tanta abertura ao mundo e vontade de crescer mais.

ela mora comigo e no meu coração.
o bigode falho
os dedos finos
a saudade

a saudade

24.2.15

minha pele está descascando
espero que de dentro saia
01 novo ser
melhor

aflorou

é belô, afoxé, todo o mundo andando a pé. a cidade, que diferente fica. de repente nem aparecem a hostilidade e a pressa. some o véu gris que cobre o cotidiano e fica só a mágica. pelas ruas dos bairros as pessoas passeiam livres. cantamos, dançamos, fazemos tanta coisa, né, luísa? a felicidade é de todos, sintonizados na energia que flutua sobre tudo. até aqueles que não acreditam sentem a força desse momento, a magia dos dias que duram com o amor e a liberdade. você não imagina a beleza que esse seu sorriso tem, rapaz. lindo, como você. toda alegria expressa é janela do espírito do mundo em que vivemos. todos sabem cantar a música, todos sabem dançar, todos sabem os passos e qual caminho seguir. o fim demora a chegar porque o sentimento é eterno. não morre nas pessoas. a paz há de ficar e trazer mais amor para que sejamos foliões sempre nas vidas nossas. e a época de lembrar do que é bom virá de novo. aflorou. o som do tambor do meu coração batendo.

Aflorou by PPK on Grooveshark

20.2.15

Músicas do Intercâmbio

As músicas que me fazem lembrar do intercâmbio são as músicas de festa, as músicas que tocavam quando eu saía pela noite de Medellín. Passando pelos bairros onde havia um bar ao lado do outro, sempre com luzes coloridas, sempre abertos e sempre dançantes. Às vezes me fazia falta um boteco, sentar para conversar tomando uma cerveja com amigos, coisa de mineiro. Na Colômbia era diferente, bar era pra dançar, mas isso eu também amava.


O que mais tocava era reggaeton e salsa. Apesar de ter aprendido os passos básicos da salsa, e de ter ficado impressionado com a beleza com que os casais dançavam, eu preferia o reggaeton. Danças de salão são muito heteronormativas para mim, prefiro ritmos que se dança só, e principalmente, os que posso me soltar livremente. E era assim que eu sentia o reggaeton, deixando aflorar toda a latinidade que eu poderia ter, dançar aquilo era transcender, era estar sempre bem.


Outra coisa que eu gosto no estilo é sua origem popular na colônia de Porto Rico. O reggaeton é ouvido em toda a América Hispânica. Na Colômbia o estilo sofre um preconceito parecido com o que sofre o funk carioca no Brasil, por causa do conteúdo sexualizado, por vezes grosseiro, e sua origem nas classes pobres. A única crítica que me faz gostar menos do reggaeton é o caráter machista de algumas músicas, mas vivemos num mundo em que a cultura dominante é essa, e isso, infelizmente, acontece na maioria dos estilos musicais.


O reaggaeton foi, definitivamente, a trilha sonora que marcou meu intercâmbio: as rumbas, as festas nos apartamentos dos parceros, as paixonites, as viagens. É um ritmo que nos faz sentir o calor, a vida e a alegria desse país incrível, universo chamado Colômbia.

8.2.15

bolero filosófico

à noite miro a cidade lépida
glorificada em edifícios sólidos
e me confronto com a crença humana
alimentada por desejos sórdidos

resta, portanto, a ilusão romântica
vestindo o corpo de mulheres lânguidas
e a redenção pela metamorfose
do iconoclasta para o tipo nobre

quem sabe um dia eu me acabe em tédio
mesmo vivendo nesse alegre trópico
no carnaval só restará o álcool
para afogar tal pensamento mórbido

dj dolores

3.2.15

o brasil e a américa latina: sobre a latinidade que não é nossa

Às vezes encontro outras pessoas que nutrem algum tipo de amor, gosto, paixão, e também um sentimento de pertencimento ao continente latinoamericano. Quando encontro essas pessoas, sabemos que compartilhamos algo. Uma coisa que é difícil encontrar no brasileiro solto por aí.
Na minha viagem pela Colômbia, Equador e Peru conheci poucos brasileiros, bem poucos. Nos lugares mais turísticos há mais de nós, mas ainda assim perdemos muito em número para turistas argentinos e inclusive de outros lugares mais distantes do mundo. Outra coisa, além dos poucos brasileiros viajando pela América Latina, com exceção da Argentina, talvez, é que também não nos preocupamos em compartilhar uma cultura comum com o continente. Aliás, o Brasil não se preocupa em compartilhar uma cultura comum com outros países, nem mesmo dentro da comunidade lusófona. Isso se deve a duas coisas. Primeiramente o nosso país é muito grande e nossa cultura é muito própria. É como se o Brasil se bastasse por si mesmo dentro de si, que é um tanto. Outra coisa é o eurocentrismo que nos domina culturalmente. Aprendemos desde novinhos a admirar o que vem do hemisfério norte como sendo rico, desenvolvido e bonito. Por isso a viagem dos sonhos de um brasileiro médio é pelos principais destinos da Europa. Viajar dentro do Brasil é muito caro, e viajar pra fora também. Então as pessoas que podem viajar, geralmente escolhem esses destinos por algumas razões dentre elas achar que tudo o que vem de lá é melhor. Outra coisa que está dentro desse assunto da cultura é a nossa imprensa: que valoriza ao extremo os Estados Unidos e a Europa e praticamente exclui de suas pautas o nosso continente; colaborando ainda mais para que o Brasil continue a ser uma ilha dentro da América Latina.
Estamos dentro de um continente maravilhoso, com culturas diversas que emanam de povos que são incríveis. Há muito o que se aprender aqui dentro, há coisas maravilhosas que nem sequer imaginamos.
Nós somos partes disso aqui, acredite.
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