10.6.15

agua sala

eu estava dormindo, eu estava na cama. a noite era longa e eu entrava pela madrugada. me encolhi na cama e comecei a suar e repetia pra mim mesma: que solidão. não posso pensar, não posso chorar, não posso, não posso nem cantar nem dançar. apenas com o sonho eu consigo lidar e quanto mais durmo, mais vou sonhar.
sonhei que estava dormindo e que tu me despertavas, na calada da noite, sob a luz da madrugada. e de repente virei água salgada, e agora sou do mar: uma onda molhada.
deixa-me chorar, deixa-me chorar, porque já estou cansada de dançar e dançar.

e correu e correu um rio de suor
e seguiu e seguiu e se foi e voou
e partiu para o mar e se apaixonou pela água
salgada
e ali ficou, meu sal e teu sal no mar ficou
abraço e suspiro, tambor e folclore, calor e movimento
de cúmbia e amor
abraço perdido que um dia me deixou


agarra-me pela cadeira e não me deixes respirar, escuta meus movimentos de mulher. aperta-me lentamente, que não sintamos mais nada além da manta que nos tampa.
deixa-me chorar, deixa-me chorar, que já estou cansada de dançar e dançar.


bomba estereo é uma banda da colômbia.

4.6.15

pela janela

eu sempre olho pela janela. não preciso de uma vista nem espero ver nada em especial; abro a janela pra tomar um vento ou pra pensar sobre qualquer coisa, geralmente nada. vejo o vizinho velhinho almoçando sozinho na mesa de plástico, vejo o outro tirando o lixo de madrugada, vejo homens jogando futebol, carros na avenida, pássaros nas árvores. já vi outras coisas por outras janelas e já tive janelas em que não via muita coisa.
não procuro nada abrindo a janela. nada além de uma pausa, um respiro, um suspiro, uma distração ou espiada qualquer.
abro a minha janela pelas janelas que abro.
para que entre a luz do sol e o ar da manhã.
Page copy protected against web site content infringement by Copyscape