Belo Horizonte, 10 de dezembro de 2011
Caros leitores do Hodierno,
É um prazer escrever-lhes hoje. Como vocês podem perceber pela formatação do texto, isso é uma carta. De amor? Entendam como quiserem. Mas o que eu queria hoje realmente era escrever uma carta, mesmo sabendo que ela não vai chegar à sua casa pelo correio, mas sim por um dos veículos responsáveis pela morte desse gênero. Ela não é manuscrita (com minha letra garranchosa), ela não tem envelope, não é selada, nem lambida. Isso não é ironia ou sarcasmo, é um lamento. A carta é um gênero tão charmoso, alimenta a vaidade de qualquer aspirante a literato, escritor ou afim. Mas já está há muito tempo em extinção. Ela não conseguiu competir com o telefone, com os e-mails, mensagens de texto, bate-papos, sites de relacionamento e inclusive mídias de difusão como um blog ou o twitter. Não me chamem de retrógrado, por favor, acho as tecnologias importantíssimas e todos os avanços nos meios de comunicação até hoje só deixaram nossa vida mais fácil e a troca de informações mais eficiente. Se quiserem me chamar de algo, prefiro vintage, pelo menos está na moda. Lembro-me das aulas de redação no colégio: texto epistolar - a carta. Produza uma carta para: amigo, parente, político, celebridade e amor. Tenho uma saudade doce dessa época, em que eu descobri minha paixão pelas linguagens e pelos textos. Tomara que as escolas de hoje não deixem isso morrer em seus alunos, o clássico convive muito bem com o contemporâneo. A cidade de Belo Horizonte ilustra bem isso, aqui a arquitetura de Belle Époque, da época da inauguração da cidade, convive lado a lado com o modernismo de Oscar Niemeyer ou com um prédio em forma de cubo. E, eu, como um bom estudante de comunicações e mídia, sei bem que um novo meio geralmente não mata o antigo, mas pelo menos redefine a sua posição, o seu papel e o grau de importância que tem. Foi assim com a televisão que substituiu o rádio como meio de comunicação de massa por excelência, e é o que a internet fará com a televisão num futuro não tão distante, eu presumo. O rádio acabou? Não, mas não influencia a sociedade como antes. Assim como a carta também não acabou, mas quase ninguém a usa como antes. O que é uma pena. Escrever uma carta é quase como escrever literatura, nela a gente preserva um estilo próprio e pessoal, como diria Fernando Sabino, outro mineiro do Rio de Janeiro e um dos grandes escritores brasileiros. Gosto do estilo dele, pouco pedante, quase vulgo, mas ainda assim (ou talvez por isso mesmo) belo. Perdi minha única correspondente, pois agora vivo ao lado dela. E o meu outro grande amigo à distância, meu parceiro e colega de glamour, não larga a veadagem e diz que precisa pensar e se preparar pra me passar um bendito endereço. Eu cansei de mendigar amor. Mas acho melhor parar por aqui, isso é uma postagem e não pode ter 3 ou 4 páginas como minhas cartas geralmente têm. Adequação é a palavra.
E como diria André Dahmer, num autógrafo que ele me deu, um forte abraço e um beijo na nuca.
Seu,
Caio
Santa Maria Madalena, 11 de Dezembro de 2011
ResponderExcluirCaro Amigo Caio,
Antes de mais nada, que belo novo visual do Hodierno: clean e muito bonito.
Sobre cartas, também sinto saudades delas. Tenho algumas trocadas há muito tempo atrás no meu baú-relicário. Fica lá, junto com lembranças de viagens e bilhetinhos de amigos.
Era uma outra forma completamente emocional de nos comunicar. Como as letras pessoais fazem falta nesse oceano tipográfico...
Grande abraço,
Diego