Ele está cansado, precisando de qualquer coisa que lhe dê um gás. Ele está compensando amizades, ou a falta delas, com trabalho, ou o excesso dele. A festa é só amanhã, hoje ele já levou dois bolos.
- Eu não vou te ligar mais, você sempre esquece e não tá nem aí pra mim.
No fundo no fundo, todo o mundo é sozinho. Ninguém come, dorme, ou vive por ninguém. Ninguém consegue se misturar física ou psicologicamente a ninguém. Toda e qualquer companhia é superficial. Todo contato é raso. Tudo o que sabem sobre você é o que a sua linguagem traduz disso.
- Seu beijo é tão bom.
Como ter prazer nas obrigações? Durante toda a sua vida ele jamais pensou sobre isso, apenas fez. Mas agora ele pensa, e sofre. Seu masoquismo está em pensar que depois da dor vem o alívio, por isso é bom sofrer, porque o alívio é imensamente mais prazeroso. Quanto mais dor, melhor.
- Você quer?
- Quero.
Às vezes ele escapa, de tudo. E só sente. O quê... o quê.... o quê? Sei não. Se soubesse não sentia. E assim vai. Indo pelo meio, indo pelo canto, ou parado, mas ainda parado vai. Porque se não vai, fica. Rá, rá, ele riu porque lembrou de uma piadinha ridícula de um professor. Significa, signivai... O signo sempre significa algo para alguém, ele nunca fica, ele vai... A piada é péssima, mas seu humor está melhorando. Se soubesse não sentia.
- Nosso problema é não conversar.
Depois disso o silêncio.