19.5.12

Um, dois, três cãezinhos

Ontem a rua estava cheia de cães. Fui parar num canil outra vez. Mas agora não acompanhado de cadelas, e sim de outros cães como eu. Acompanhado mesmo eu estava só de um, os outros eram daqueles que se agregam já estando em bando e não se agregam de verdade. Companhias mais rasas que as ditas profundas, daí você imagina a distância. Tão perto e tão longe. Vi muitos outros cãezinhos, uns latindo, outros uivando. Eu, você já sabe o que estava fazendo. De praxe. Cheirei o cu de alguns, tentei entrar no meio, com receio da agressividade, tentei disfarçar que não era um vira-lata daquele beco, que estava urinando num território que já tinha dono. Ninguém me mordeu. Quer dizer, morderam sim, mas não foi de agressividade e a história é longa. Longa não, é curta. Um cão chega, cheira seu cu e te morde. Mas não te morde querendo te morder. Você ensina pra ele que morder não é legal, que o dente não é feito pra dar carinho. Que o amor é macio. Ou devia ser. Mas não existe amor na nossa espécie, Canis lupus familiaris. Aqui a gente briga por ossos, a gente briga por fêmeas, a gente briga por tudo.
Voltar a uivar eu não volto, porque me toquei que disso eu nunca deixei. Mas eu ainda procuro qualquer tapete de bem-vindo. Adote.

Conrado Miguel

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