hoje você não está muito pra conversa, parece. essa banda é meio mole, bem sem graça: como você. tem gente que confunde apatia com elegância, antipatia com sorriso. e aquele existencialismo de promoção, as dúvidas sobre tudo o que te cerca como se o problema estivesse em outro lugar. já ouvi isso algumas vezes. a noite tem seus tipos, os ciclos vêm. os egoístas, os ironicosarcásticos, os monogâmicos possessivos. cada quem com sua neurose típica e esperada; com sua colocação própria; às vezes até o corpo segue um padrão. surpresa nenhuma, meu bem. nessa vida a gente aposta pra acertar e esse jogo eu já conheço. o mercado é previsível.
eu abro a vastidão do meu vazio se você me mostrar o seu primeiro. vamos ver qual é mais profundo.
vou ser sincero, estou aqui pra te julgar. não passo fio dental à toa.
23.11.15
fracto livre mente
era uma sensação maravilhosa: a liberdade. a realidade era muito mais complexa e às vezes a sensação não correspondia a ela; mas poder viver isso também era ser livre.
dessa vez eu não estava triste por estar sozinho. entrei num ônibus em distração, e de repente, quando percebi, estava subindo no teto. fiquei ali em cima, me equilibrando com o meu corpo, sentindo a noite fresca que depois ficou fria. as pessoas olhavam com espanto, provavelmente pensando: loucura. eu as via de cima confundidas com as luzes borradas da cidade. elas eram pessoas ou eram cidade, eu quem era. cidade que eu atravessava ligeiro na velocidade do ônibus, comum e usual; eu atravessava a cidade que me atravessa e que fica em mim todos os dias. pela primeira vez eu desafiei o caos perfeitamente ordenado; a rocha, o barro e a madeira; o sono mal dormido; o silêncio inquieto. acordando sonolento. doce pesadelo urbano.
vi um pouco além; eu em movimento, vendo o mundo mover e sentindo essa coisa aqui dentro, sem forma ou direção, tomar um rumo também. pela primeira vez em muito tempo me senti livre de mim mesmo. e assim, dessa maneira, me entregando de tal modo a mim, passando agressivo pela urbe em vez de passar pelos meus próprios crivos, que, ao final, apenas me paralisam. dessa vez a eterna surpresa não me pegou. transformei a surpresa em liberdade vivida, em potência perene.
o ônibus parou mas eu segui.
dessa vez eu não estava triste por estar sozinho. entrei num ônibus em distração, e de repente, quando percebi, estava subindo no teto. fiquei ali em cima, me equilibrando com o meu corpo, sentindo a noite fresca que depois ficou fria. as pessoas olhavam com espanto, provavelmente pensando: loucura. eu as via de cima confundidas com as luzes borradas da cidade. elas eram pessoas ou eram cidade, eu quem era. cidade que eu atravessava ligeiro na velocidade do ônibus, comum e usual; eu atravessava a cidade que me atravessa e que fica em mim todos os dias. pela primeira vez eu desafiei o caos perfeitamente ordenado; a rocha, o barro e a madeira; o sono mal dormido; o silêncio inquieto. acordando sonolento. doce pesadelo urbano.
vi um pouco além; eu em movimento, vendo o mundo mover e sentindo essa coisa aqui dentro, sem forma ou direção, tomar um rumo também. pela primeira vez em muito tempo me senti livre de mim mesmo. e assim, dessa maneira, me entregando de tal modo a mim, passando agressivo pela urbe em vez de passar pelos meus próprios crivos, que, ao final, apenas me paralisam. dessa vez a eterna surpresa não me pegou. transformei a surpresa em liberdade vivida, em potência perene.
o ônibus parou mas eu segui.
11.9.15
quando você me vir na rua, eu não sei serei aquele cara estiloso que passa apressado e arrogante. eu não vou ser o rapaz dos fones de ouvido, muito menos o dos óculos escuros. eu não serei aquele melhor que os outros, serei tão pior quanto qualquer um.
quando você me vir na rua, vai perceber que ando um pouco cansado, ansioso, estressado. vou passar devagar pensando em tantas coisas. perdido.
apesar da serenidade, quando me vir na rua, você vai saber. por dentro: uma loucura.
quando você me vir na rua, vai perceber que ando um pouco cansado, ansioso, estressado. vou passar devagar pensando em tantas coisas. perdido.
apesar da serenidade, quando me vir na rua, você vai saber. por dentro: uma loucura.
28.8.15
Receita em crônica: patacones lejanos
Uma das melhores formas de conhecer um lugar é através da comida. Ela carrega a cultura, a história, a tradição, as inovações, as boas ideias, a saúde de um povo. Quando estive na Colômbia, por seis meses, pude provar a comida de lá e me alimentar de acordo com os hábitos do país e de Antioquia, a região onde vivi. Há algumas semelhanças entre a comida brasileira e a colombiana, principalmente a cozinha nordestina, que usa derivados do milho e coentro como tempero. Mas as diferenças são maiores. No café da manhã é obrigatória a arepa, o pão deles. Pão mesmo, quase não há, o que eu acho excelente. A farinha de trigo branca é muito processada e a maioria dos nutrientes são perdidos, restando o puro carboidrato, que é absorvido rapidamente pelo organismo e quase não alimenta. A arepa é feita basicamente de farinha de milho pré-cozida, o grão integral. Ela é como uma tortilha, e diferentes variedades de milho e formas de preparo resultam em diferentes arepas. A melhor arepa, para o meu paladar, é a de milho verde com queijo fresco por cima: arepa de chócolo con quesito. Essa tortilha é a base da alimentação colombiana.
Mas a cultura de lá varia bastante de região pra região. Historicamente, a causa disso foi o isolamento das regiões tanto por causa do relevo, quanto pelas péssimas condições das estradas no período colonial. Isso criou um país de muitos sotaques e maneiras diferentes. A comida também muda entre os lugares. O prato cuja receita vou dar é o patacón, típico da costa caribenha. Não lembro a primeira vez que provei, mas sei que com certeza achei delícia demais. A primeira vez que preparei essa receita foi no Brasil, depois que voltei; lá eu só comia o deles porque, claro, era mais bem feito e saboroso. Mas das algumas vezes que fiz para amigos, todos amaram. Comi bastante quando viajei a San Bernardo del Viento e em Medellín também.
O patacón é uma banana da terra verde duplamente frita e amassada, um tipo de crosta crocante salgada. A banana pode ser cortada em rodelas, o que resulta em discos, ou pode ser frita inteira e vira uma grande folha. Come-se com hogado, um molho simples de tomate, mas também são comuns outros recheios como guacamole, carnes, saladas, queijos, molhos diversos e o que a pessoa quiser pôr por cima. Eu prefiro a versão clássica com o molho de tomate um pouco mais incrementado com ervas e pimenta. Ele leva tomate, alho e cebola; pode ser também com a base da cebolinha, a parte branca que vai até o verde claro, perto da raiz. No Brasil só se usa as folhas da cebolinha, que também podem ser usadas na receita, desde que colocadas ao final do cozimento. O principal desafio dessa receita é encontrar a banana da terra verde. Se você não tiver contato direto com um produtor (quem tem?), é bom saber o dia que o hortifruti chega ao supermercado ou sacolão, assim tem mais chance de encontrá-las verdes. Acredito que em feiras pode ser mais fácil de encontrar. Ela precisa ser verde pra ficar crocante e salgada. A banana da terra madura, deliciosa também, é mole e doce e podemos fazer outras receitas maravilhosas com ela. Se a banana estiver de vez, meio verde meio madura, dá pra fazer se ela estiver mais pra verde do que pra madura.
Abaixo a receita para duas pessoas.
Patacones con hogado
Ingredientes
Patacones
- 4 bananas da terra verdes descascadas
- óleo para fritar em imersão
- sal
Hogado
- 2 tomates grandes maduros inteiros picados em cubos
- meia cebola picada em cubinhos ou quantidade equivalente da parte clara da cebolinha
- 1 dente pequeno de alho
- sal
- pimenta
- orégano e tomilho ou manjericão (opcional)
- azeite para refogar
Preparo
Patacones
Coloque o óleo para esquentar. Corte as bananas em rodelas com dois dedos de espessura, ou um pouco menos. Quando o óleo estiver bem quente, frite as rodelas por alguns minutos até dourarem. Retire e espere esfriar um pouco. Amasse as rodelas com o fundo de uma caneca, tigela, frigideira ou entre duas tábuas. Você pode colocar dentro de um saco plástico, assim facilita para amassar. Veja nesse vídeo como amassar. Frite os discos obtidos no mesmo óleo quente até ficarem dourados. Deixe escorrer ou coloque no papel absorvente. Tempere com sal.
Hogado
Refogue a cebola por alguns segundos num fio de azeite, acrescente o alho e refogue. Acrescente os tomates, o sal e a pimenta e deixe cozinhar até que os tomates se desmanchem. Caso use o tempero, sugiro óregano e tomilho, uma pitada de cada. Algumas folhas de manjericão também vão bem. Coloque mais para o meio do cozimento, as ervas secas. Se forem frescas, ao final. Mexa para misturar o molho e amassar os tomates. Ele fica com um aspecto rústico, com as casas; e dependendo da quantidade de azeite, com um brilho lindo. Prove e acerte o sal.
Sirva os patacones junto com o molho para acompanhar.
Essa receita é alegra e viva. Ela tem o sabor da costa colombiana. Prepare num dia feliz ou torne o seu dia feliz preparando essa receita. Um som que combina com esse sabor é a banda Systema Solar.
10.8.15
respeite
a solidão alheia
e todo o silêncio
que vem de dentro
da mesma forma
respeite
o excesso
respeite
o momento
o motivo
respeite
o que vem do outro.
kaio bruno dinossauro
a solidão alheia
e todo o silêncio
que vem de dentro
da mesma forma
respeite
o excesso
respeite
o momento
o motivo
respeite
o que vem do outro.
kaio bruno dinossauro
24.7.15
gente ao redor, entre, sobre, dentro
é que nem mar, manso. envolve-nos, nadamos, mergulhamos, flutuamos. tem as ondas, uma atrás da outra, sempre as ondas. na praia de areia fina e branca.
no início, na primeira vez que te vi e já fascinado; como eu ia imaginar, naquela noite, que depois teria você na vida de uma forma melhor que a que eu queria no início. um acaso que se fosse planejado não seria. você se mostrou para nós, tão delicado, respeitando todos os momentos. você soube seduzir e cuidar e ser cuidado quando quis. ainda sabe, sabe bem.
e as viagens, muitas viagens de ideias, desejos, pensamentos que todos deviam ouvir. e as viagens em que pessoas têm a chance do contato e de saber e de dar e ganhar; de viver com você. privilégios.
sempre doido, é bom demais ficar doido. as loucuras te permitem ser tudo isso. e a razão é só uma base pra não sair voando por aí perdido.
vai ensinar, moço. vai aprender muito mais.
no início, na primeira vez que te vi e já fascinado; como eu ia imaginar, naquela noite, que depois teria você na vida de uma forma melhor que a que eu queria no início. um acaso que se fosse planejado não seria. você se mostrou para nós, tão delicado, respeitando todos os momentos. você soube seduzir e cuidar e ser cuidado quando quis. ainda sabe, sabe bem.
e as viagens, muitas viagens de ideias, desejos, pensamentos que todos deviam ouvir. e as viagens em que pessoas têm a chance do contato e de saber e de dar e ganhar; de viver com você. privilégios.
sempre doido, é bom demais ficar doido. as loucuras te permitem ser tudo isso. e a razão é só uma base pra não sair voando por aí perdido.
vai ensinar, moço. vai aprender muito mais.
15.7.15
essa moda é nova
horóscopo tá na moda. a tendência agora entre a galera que curte astrologia é querer saber o vênus das pessoas. vixe, amiga, vênus em peixes? só um pouquinho sofredora a senhora. apaixona fácil e tem medo de chegar nos boys na balada. acho que essa lua em leão combina perfeitamente com sua arrogância. seus lados leão e virgem são os que mais se sobressaem em você. que pena, capricórnio é um signo tão bonito. capricornianos são apaixonantes. tá na moda agora também essa coisa de livro de colorir. uma amiga minha dizia que diariamente deveríamos nos dedicar a um momento de criação. o tempo todo estamos apenas consumindo informação, lendo, vendo, ouvindo. é bom tirar um momento do dia para criar algo, ainda que seja uma nova combinação de cores na mandala. também tá em voga a gastronomia. midiatização grande, cozinheiro virando celebridade e, consequentemente, artista. agora carrinho de comida virou food truck e custa mais caro, agora é gourmet. agora tem gente fazendo faculdade pra ser chef.
com tanta moda nesse mundo, 2015 e eu nunca tive um esmartfone.
com tanta moda nesse mundo, 2015 e eu nunca tive um esmartfone.
8.7.15
o corpo do homem
o corpo do homem é essa coisa, que assim como o corpo da mulher, é oprimido por diversos padrões de beleza. o corpo do homem é doutrinado a ser como é antes mesmo de nascer. o corpo do homem tem características físicas e biológicas próprias. os corpos dos homens são muitos, são todos como podem ser. há corpos de homens que muitos não veem como corpos de homens, apesar de o serem. o corpo da mulher é muito parecido. a diferença entre eles não são pelos, nem genitálias, isso é o mínimo. a diferença é que o corpo do homem lhe pertence, e o da mulher, não. o corpo da mulher pertence ao homem.
10.6.15
agua sala
eu estava dormindo, eu estava na cama. a noite era longa e eu entrava pela madrugada. me encolhi na cama e comecei a suar e repetia pra mim mesma: que solidão. não posso pensar, não posso chorar, não posso, não posso nem cantar nem dançar. apenas com o sonho eu consigo lidar e quanto mais durmo, mais vou sonhar.
sonhei que estava dormindo e que tu me despertavas, na calada da noite, sob a luz da madrugada. e de repente virei água salgada, e agora sou do mar: uma onda molhada.
deixa-me chorar, deixa-me chorar, porque já estou cansada de dançar e dançar.
agarra-me pela cadeira e não me deixes respirar, escuta meus movimentos de mulher. aperta-me lentamente, que não sintamos mais nada além da manta que nos tampa.
deixa-me chorar, deixa-me chorar, que já estou cansada de dançar e dançar.
sonhei que estava dormindo e que tu me despertavas, na calada da noite, sob a luz da madrugada. e de repente virei água salgada, e agora sou do mar: uma onda molhada.
deixa-me chorar, deixa-me chorar, porque já estou cansada de dançar e dançar.
e correu e correu um rio de suor
e seguiu e seguiu e se foi e voou
e partiu para o mar e se apaixonou pela água
salgada
e ali ficou, meu sal e teu sal no mar ficou
abraço e suspiro, tambor e folclore, calor e movimento
de cúmbia e amor
abraço perdido que um dia me deixou
agarra-me pela cadeira e não me deixes respirar, escuta meus movimentos de mulher. aperta-me lentamente, que não sintamos mais nada além da manta que nos tampa.
deixa-me chorar, deixa-me chorar, que já estou cansada de dançar e dançar.
bomba estereo é uma banda da colômbia.
4.6.15
pela janela
eu sempre olho pela janela. não preciso de uma vista nem espero ver nada em especial; abro a janela pra tomar um vento ou pra pensar sobre qualquer coisa, geralmente nada. vejo o vizinho velhinho almoçando sozinho na mesa de plástico, vejo o outro tirando o lixo de madrugada, vejo homens jogando futebol, carros na avenida, pássaros nas árvores. já vi outras coisas por outras janelas e já tive janelas em que não via muita coisa.
não procuro nada abrindo a janela. nada além de uma pausa, um respiro, um suspiro, uma distração ou espiada qualquer.
abro a minha janela pelas janelas que abro.
para que entre a luz do sol e o ar da manhã.
não procuro nada abrindo a janela. nada além de uma pausa, um respiro, um suspiro, uma distração ou espiada qualquer.
abro a minha janela pelas janelas que abro.
para que entre a luz do sol e o ar da manhã.
25.5.15
prazer
podemos ter o dinheiro mas não podemos ter o amor desejado. podemos ter o amor e o dinheiro falta. podemos amar e querer mais o amor e mais outros amores. quantos? quantos couberem no vazio impreenchível. alguns hão de querer um pouco de tudo. alguns vão querer trabalho, dinheiro, o prazer que houver. ele vem de tantos lugares, de qualquer lugar pode vir. mas não vamos recebê-lo de qualquer jeito. satisfação: o que nos impede de fazer todo o resto. satisfação distorce a relação com o mundo, satisfação limita e motiva. não podemos ter tudo.
20.5.15
a verdadeira história de dona neidinha e seu dário
a lua vem nascendo, redonda que nem um quiabo. oh, lua, me dá um sabãozinho d'eu lavar minhas roupinhas. essas palavras que me lembro vagamente que vovó cantava quando a gente era neném, com o bracinho estendido pra lua. naquele terreiro grande com o cimento quente mesmo de noite. aquele céu tão negro e pontilhado.
vovó quando vem pra capital fica doidinha, inquieta, ajeita todo o apartamento e não acha mais o que fazer, vai fazer fuxico. já tantas colchas que ela nem sabe mais. quando vovó volta pra casa ela se sente melhor, mas às vezes anda tão só naquele casarão que só fica cheio nas férias quando vem os filhos e os netos. duas vezes por ano ela vai pra roça, dar uma ajeitada na sede, ver o vaqueiro, encontrar dona jacinta e as outras comadres e os compadres. às vezes ela vai pra praia, mas fica só de roupa sentada. lembro quando vovó resolveu entrar no mar e tomou um caldo que a gente ri até hoje. vovó também vai pra bom jesus da lapa de vez em quando, pra rezar, aí aproveita e dá uma passada no sertão, rio de contas, livramento de nossa senhora, marcolino moura, pra visitar os parentes de vovô dário.
vovô dário vem da bahia, ele viajava com tropa, aí comprou terra na região e foi morar no rubim. lá ele viu vovó e falou, é com essa que eu vou casar. ela tinha 16 e ele, quase o dobro. eles tiveram sete filhos juntos. quando chegou a hora vovó deve ter pensado, que nome eu vou dar pra esse tanto de gente? aí botou ubiratan, ubiraci e ubiralene nos homens, marilene, milene, marlene e marineide nas mulheres. combinando fica mais fácil. mamãe é a última filha. quando o primeiro filho nasceu, vovó tinha 17 anos, ainda era costume brincar de boneca e ela era bem sapeca. quando o filho dormiu ela vestiu uma roupinha branca nele, cruzou as mãozinhas em cima do peito, deitou ele na mesa e acendeu uma vela, como se tivesse morrido. depois escondeu pra rir da cara de quem chegasse primeiro e visse aquilo.
vovó e vovô moravam no rasta-couro, uma pracinha no rubim que na época nem sei se já era praça. depois arrumaram um sítio na beirinha da cidade e foram morar lá. viviam da renda do gado das duas fazendas, poço preto e córrego seco. vovó era muito trabalhadeira, fazia tudo o que era serviço de casa e cuidava dos filhos. depois que vovô morreu tudo ficou muito diferente, o tempo foi passando, natal esvaziou, tia foi virando avó, primos foram caindo no mundo, indo morar longe, se perdendo por aí. vovó viu tudo, sabe de tudo que aconteceu e que acontece com aquela família grande, os sucessos de cada neto, as tristezas de cada filho, as andanças, tudo, tudo. uma dia ela estava fazendo a unha quando um avião passou no céu. quando avião passa no céu do rubim é evento, todo o mundo corre pra ver. aí vovó confessou que um dia queria andar num trem daquele. tanta vida dura, tanta labuta e ainda sonhos, e ainda vontades.
vovó quando vem pra capital fica doidinha, inquieta, ajeita todo o apartamento e não acha mais o que fazer, vai fazer fuxico. já tantas colchas que ela nem sabe mais. quando vovó volta pra casa ela se sente melhor, mas às vezes anda tão só naquele casarão que só fica cheio nas férias quando vem os filhos e os netos. duas vezes por ano ela vai pra roça, dar uma ajeitada na sede, ver o vaqueiro, encontrar dona jacinta e as outras comadres e os compadres. às vezes ela vai pra praia, mas fica só de roupa sentada. lembro quando vovó resolveu entrar no mar e tomou um caldo que a gente ri até hoje. vovó também vai pra bom jesus da lapa de vez em quando, pra rezar, aí aproveita e dá uma passada no sertão, rio de contas, livramento de nossa senhora, marcolino moura, pra visitar os parentes de vovô dário.
vovô dário vem da bahia, ele viajava com tropa, aí comprou terra na região e foi morar no rubim. lá ele viu vovó e falou, é com essa que eu vou casar. ela tinha 16 e ele, quase o dobro. eles tiveram sete filhos juntos. quando chegou a hora vovó deve ter pensado, que nome eu vou dar pra esse tanto de gente? aí botou ubiratan, ubiraci e ubiralene nos homens, marilene, milene, marlene e marineide nas mulheres. combinando fica mais fácil. mamãe é a última filha. quando o primeiro filho nasceu, vovó tinha 17 anos, ainda era costume brincar de boneca e ela era bem sapeca. quando o filho dormiu ela vestiu uma roupinha branca nele, cruzou as mãozinhas em cima do peito, deitou ele na mesa e acendeu uma vela, como se tivesse morrido. depois escondeu pra rir da cara de quem chegasse primeiro e visse aquilo.
vovó e vovô moravam no rasta-couro, uma pracinha no rubim que na época nem sei se já era praça. depois arrumaram um sítio na beirinha da cidade e foram morar lá. viviam da renda do gado das duas fazendas, poço preto e córrego seco. vovó era muito trabalhadeira, fazia tudo o que era serviço de casa e cuidava dos filhos. depois que vovô morreu tudo ficou muito diferente, o tempo foi passando, natal esvaziou, tia foi virando avó, primos foram caindo no mundo, indo morar longe, se perdendo por aí. vovó viu tudo, sabe de tudo que aconteceu e que acontece com aquela família grande, os sucessos de cada neto, as tristezas de cada filho, as andanças, tudo, tudo. uma dia ela estava fazendo a unha quando um avião passou no céu. quando avião passa no céu do rubim é evento, todo o mundo corre pra ver. aí vovó confessou que um dia queria andar num trem daquele. tanta vida dura, tanta labuta e ainda sonhos, e ainda vontades.
8.5.15
gente ao redor #2
eu ouço o alarme do carro fechando e já sei que chegou em casa. às vezes eu me preparo, nem sempre eu quero que ela chegue. sua presença é muito forte e pode ser que incomode. tem uma coisa de fechada, inacessível, inalcançável. difícil entender um pouco. fico pensando se não sou um pouco assim também, sério demais. talvez seja uma combinação de nós dois assim: sérios e por vezes fechados. poderemos apenas curtir o momento?
tem seus universos, mas nenhum supera lucca. ela sem ele e ela com ele são pessoas completamente diferentes. lucca: grande mundo ao qual deve-se dedicar ou apenas refugiar-se. tenho a sensação de que as relações em que as pessoas se isolam não podem ser saudáveis. mas ela quando quer abrir-se é outra pessoa. quando nos deixa vislumbrar um pouco do que traz por dentro e ri e fala coisas que todos falam. difícil de conviver, mas é bom. não deixa de ser bom.
tem seus universos, mas nenhum supera lucca. ela sem ele e ela com ele são pessoas completamente diferentes. lucca: grande mundo ao qual deve-se dedicar ou apenas refugiar-se. tenho a sensação de que as relações em que as pessoas se isolam não podem ser saudáveis. mas ela quando quer abrir-se é outra pessoa. quando nos deixa vislumbrar um pouco do que traz por dentro e ri e fala coisas que todos falam. difícil de conviver, mas é bom. não deixa de ser bom.
30.4.15
a viagem do aeronauta
a onda
são várias
ondas
que vêm e lavam
a onda
ondas
que ora são água
ora são ar
ora pensamentos
e o aeronauta
surfa com maestria
domando a onda
(ondas
e deixando-se levar
enquanto-se lava
para não sair limpo
senão melhor
tão sujo do resto
que a onda na viagem no mar e no ar pensamento
apenas traz, logo após
a calma
(a onda poetizada (
***
o aeronauta
de muitos nomes que tem
passeia por universos
pessoais & intransferivelmente
grandes
e é capaz
de transitar
entretantos
meios e mundos
buscando sua única e necessária viagem
aquela que vai
em direção
ao seu mais distante e profundo
eu
***
o aeronauta
segue sua viagem
interminável
pois entre um e todos
há coisas demais
coisas demais
mas ele sabe
que seu conhecimento é nada
e que a jornada traz cada vez mais
não somos nada
nada perto de tudo
que podemos ser
são várias
ondas
que vêm e lavam
a onda
ondas
que ora são água
ora são ar
ora pensamentos
e o aeronauta
surfa com maestria
domando a onda
(ondas
e deixando-se levar
enquanto-se lava
para não sair limpo
senão melhor
tão sujo do resto
que a onda na viagem no mar e no ar pensamento
apenas traz, logo após
a calma
(a onda poetizada (
***
o aeronauta
de muitos nomes que tem
passeia por universos
pessoais & intransferivelmente
grandes
e é capaz
de transitar
entretantos
meios e mundos
buscando sua única e necessária viagem
aquela que vai
em direção
ao seu mais distante e profundo
eu
***
o aeronauta
segue sua viagem
interminável
pois entre um e todos
há coisas demais
coisas demais
mas ele sabe
que seu conhecimento é nada
e que a jornada traz cada vez mais
não somos nada
nada perto de tudo
que podemos ser
24.4.15
hoy día
hoje é um novo dia e ele começou diferente. um novo corte de cabelo e novas aventuras a chegar. o dia trouxe nuvens de chuva e pensamentos intranquilos. foi difícil decifrá-los e fazer com que fizessem sentidos minimamente compreensíveis. o dia veio com possibilidades que desperdicei, outras que criei e os mesmos erros de sempre. deu vontade de mudar tudo, reinventar até mesmo as coisas novas, desconstruir o que me agrada e pensar e nunca parar de pensar. também deu vontade de manter tudo por perto, principalmente as coisas boas e que sei que vingam, deu vontade de não mexer em nada e só sentir não pensar. o dia foi difícil, deu vontade até de ir embora. mas eu tô sempre por aqui, quando quiser é só chamar.
13.4.15
sul
foi andando pelo sul
que achei
que poderia ser algo melhor
travestidos de simplicidade
a humildade e o orgulho
são parecidos
os cães de rua falavam
a comida barata falava
as estradas sinuosas falavam
que não
quando voltei, percebi
que cometia os mesmos erros
de sempre
o sul não muda
nem o norte poderia
com o ego, a opinião
e os universos
pessoais & intransferivelmente
pequenos
que achei
que poderia ser algo melhor
travestidos de simplicidade
a humildade e o orgulho
são parecidos
os cães de rua falavam
a comida barata falava
as estradas sinuosas falavam
que não
quando voltei, percebi
que cometia os mesmos erros
de sempre
o sul não muda
nem o norte poderia
com o ego, a opinião
e os universos
pessoais & intransferivelmente
pequenos
20.3.15
sexo vespertino: prós
depois do almoço, tempo suficiente para não estar mais com sono nem com o estômago cheio
com a luz do sol já mais fraca possibilitando uma visão agradabilíssima do corpo alheio (para mais efeitos de luz, testar cortinas e lâmpadas)
a possibilidade de recuperar energias para repeteco à noite
não ter preocupação pois se pode-se transar à tarde é fim de semana ou se está desempregado
depois do rela-rela, um café esperto
com a luz do sol já mais fraca possibilitando uma visão agradabilíssima do corpo alheio (para mais efeitos de luz, testar cortinas e lâmpadas)
a possibilidade de recuperar energias para repeteco à noite
não ter preocupação pois se pode-se transar à tarde é fim de semana ou se está desempregado
depois do rela-rela, um café esperto
11.3.15
27.2.15
paraíso meu
eu sei que você não é nada perto de tudo o que pode ser, e eu tão pouco (nadica de nada). já ouvi dizer de gente que traz de volta o nosso amor, mas sempre senti que nunca ia precisar disso. já ouviu dizer que quando perdemos algo e não achamos é porque nunca foi mesmo nosso? não tenho que temer, tudo pode ser, nada vai acontecer. sorria, na nossa vida é alegria. quando o corpo junta é uma sintonia que sinto igual desde a primeira vez, sempre dá uma emoção e medinho tão gostoso. nossa força de amantes é também uma força de amizade e de compreensão. tudo combina, é tão lindo. as descobertas juntos são como pactos secretos que fizemos sem saber nem dizer nenhuma palavra, sequer veio à consciência, apenas sabemos. e quando o toque vem e acalma e daí a pouco já é incêndio e a saliva escorre pelo corpo junto com o suor que sobrou de nossa aventura perfeita e pessoal. alinhados à simetria mística da união caminhamos sobre a linha da dúvida do inevitável, da perenidade do efêmero, na velocidade da luz em câmera lenta dando voltas e voltas e voltas. não existe resultado e a ignorância define todo o resto. agora é o paraíso meu. é nosso. é ainda nada perto de tudo o que pode ser.
25.2.15
gente ao redor #1: luisa
a menina que não toma leite e chora à toa.
esses dias me peguei na sua cama, abraçadinhos, com você chorando no meu ombro e eu te contando como é especial. ontem você fez muito quibe, nunca vi tanto quibe, e me ofereceu pra comer. hoje comi muito quibe de novo. você me ensinou a comer e a cozinhar sem leite e achar tudo muito gostoso. hoje eu acho a coisa mais legal falar: essa comida foi feita com 0 leite (e como é difícil achar comidas assim). há alguns meses me peguei sentado com você no lua nova e depois no piolho, tomando brahma, falando mal de bh e da nossa vontade de cair no mundo, ouvindo histórias ainda boas do outro caio. há alguns meses eu te via no seu quarto e eu no meu e tinha vontade de entrar pra prosar à toa, mas tinha vergonha. hoje tenho menos. e pensar que há mais tempo ainda você era a princesinha e eu era o pão duro e não nos dávamos. eu tinha ciúme de zé e você também. ainda bem que agora somos irmãos e te conto tudo. você, tão parecida comigo e eu caminhando por aí te achei dando sopa e combinou justo com o que eu precisava. ainda bem que mudamos tanto, pois nos vemos hoje e nem nos reconhecemos tanta abertura ao mundo e vontade de crescer mais.
ela mora comigo e no meu coração.
esses dias me peguei na sua cama, abraçadinhos, com você chorando no meu ombro e eu te contando como é especial. ontem você fez muito quibe, nunca vi tanto quibe, e me ofereceu pra comer. hoje comi muito quibe de novo. você me ensinou a comer e a cozinhar sem leite e achar tudo muito gostoso. hoje eu acho a coisa mais legal falar: essa comida foi feita com 0 leite (e como é difícil achar comidas assim). há alguns meses me peguei sentado com você no lua nova e depois no piolho, tomando brahma, falando mal de bh e da nossa vontade de cair no mundo, ouvindo histórias ainda boas do outro caio. há alguns meses eu te via no seu quarto e eu no meu e tinha vontade de entrar pra prosar à toa, mas tinha vergonha. hoje tenho menos. e pensar que há mais tempo ainda você era a princesinha e eu era o pão duro e não nos dávamos. eu tinha ciúme de zé e você também. ainda bem que agora somos irmãos e te conto tudo. você, tão parecida comigo e eu caminhando por aí te achei dando sopa e combinou justo com o que eu precisava. ainda bem que mudamos tanto, pois nos vemos hoje e nem nos reconhecemos tanta abertura ao mundo e vontade de crescer mais.
ela mora comigo e no meu coração.
24.2.15
aflorou
é belô, afoxé, todo o mundo andando a pé. a cidade, que diferente fica. de repente nem aparecem a hostilidade e a pressa. some o véu gris que cobre o cotidiano e fica só a mágica. pelas ruas dos bairros as pessoas passeiam livres. cantamos, dançamos, fazemos tanta coisa, né, luísa? a felicidade é de todos, sintonizados na energia que flutua sobre tudo. até aqueles que não acreditam sentem a força desse momento, a magia dos dias que duram com o amor e a liberdade. você não imagina a beleza que esse seu sorriso tem, rapaz. lindo, como você. toda alegria expressa é janela do espírito do mundo em que vivemos. todos sabem cantar a música, todos sabem dançar, todos sabem os passos e qual caminho seguir. o fim demora a chegar porque o sentimento é eterno. não morre nas pessoas. a paz há de ficar e trazer mais amor para que sejamos foliões sempre nas vidas nossas. e a época de lembrar do que é bom virá de novo. aflorou. o som do tambor do meu coração batendo.
20.2.15
Músicas do Intercâmbio
As músicas que me fazem lembrar do intercâmbio são as músicas de festa, as músicas que tocavam quando eu saía pela noite de Medellín. Passando pelos bairros onde havia um bar ao lado do outro, sempre com luzes coloridas, sempre abertos e sempre dançantes. Às vezes me fazia falta um boteco, sentar para conversar tomando uma cerveja com amigos, coisa de mineiro. Na Colômbia era diferente, bar era pra dançar, mas isso eu também amava.
O que mais tocava era reggaeton e salsa. Apesar de ter aprendido os passos básicos da salsa, e de ter ficado impressionado com a beleza com que os casais dançavam, eu preferia o reggaeton. Danças de salão são muito heteronormativas para mim, prefiro ritmos que se dança só, e principalmente, os que posso me soltar livremente. E era assim que eu sentia o reggaeton, deixando aflorar toda a latinidade que eu poderia ter, dançar aquilo era transcender, era estar sempre bem.
Outra coisa que eu gosto no estilo é sua origem popular na colônia de Porto Rico. O reggaeton é ouvido em toda a América Hispânica. Na Colômbia o estilo sofre um preconceito parecido com o que sofre o funk carioca no Brasil, por causa do conteúdo sexualizado, por vezes grosseiro, e sua origem nas classes pobres. A única crítica que me faz gostar menos do reggaeton é o caráter machista de algumas músicas, mas vivemos num mundo em que a cultura dominante é essa, e isso, infelizmente, acontece na maioria dos estilos musicais.
O reaggaeton foi, definitivamente, a trilha sonora que marcou meu intercâmbio: as rumbas, as festas nos apartamentos dos parceros, as paixonites, as viagens. É um ritmo que nos faz sentir o calor, a vida e a alegria desse país incrível, universo chamado Colômbia.
8.2.15
bolero filosófico
à noite miro a cidade lépida
glorificada em edifícios sólidos
e me confronto com a crença humana
alimentada por desejos sórdidos
resta, portanto, a ilusão romântica
vestindo o corpo de mulheres lânguidas
e a redenção pela metamorfose
do iconoclasta para o tipo nobre
quem sabe um dia eu me acabe em tédio
mesmo vivendo nesse alegre trópico
no carnaval só restará o álcool
para afogar tal pensamento mórbido
dj dolores
glorificada em edifícios sólidos
e me confronto com a crença humana
alimentada por desejos sórdidos
resta, portanto, a ilusão romântica
vestindo o corpo de mulheres lânguidas
e a redenção pela metamorfose
do iconoclasta para o tipo nobre
quem sabe um dia eu me acabe em tédio
mesmo vivendo nesse alegre trópico
no carnaval só restará o álcool
para afogar tal pensamento mórbido
dj dolores
3.2.15
o brasil e a américa latina: sobre a latinidade que não é nossa
Às vezes encontro outras pessoas que nutrem algum tipo de amor, gosto, paixão, e também um sentimento de pertencimento ao continente latinoamericano. Quando encontro essas pessoas, sabemos que compartilhamos algo. Uma coisa que é difícil encontrar no brasileiro solto por aí.
Na minha viagem pela Colômbia, Equador e Peru conheci poucos brasileiros, bem poucos. Nos lugares mais turísticos há mais de nós, mas ainda assim perdemos muito em número para turistas argentinos e inclusive de outros lugares mais distantes do mundo. Outra coisa, além dos poucos brasileiros viajando pela América Latina, com exceção da Argentina, talvez, é que também não nos preocupamos em compartilhar uma cultura comum com o continente. Aliás, o Brasil não se preocupa em compartilhar uma cultura comum com outros países, nem mesmo dentro da comunidade lusófona. Isso se deve a duas coisas. Primeiramente o nosso país é muito grande e nossa cultura é muito própria. É como se o Brasil se bastasse por si mesmo dentro de si, que é um tanto. Outra coisa é o eurocentrismo que nos domina culturalmente. Aprendemos desde novinhos a admirar o que vem do hemisfério norte como sendo rico, desenvolvido e bonito. Por isso a viagem dos sonhos de um brasileiro médio é pelos principais destinos da Europa. Viajar dentro do Brasil é muito caro, e viajar pra fora também. Então as pessoas que podem viajar, geralmente escolhem esses destinos por algumas razões dentre elas achar que tudo o que vem de lá é melhor. Outra coisa que está dentro desse assunto da cultura é a nossa imprensa: que valoriza ao extremo os Estados Unidos e a Europa e praticamente exclui de suas pautas o nosso continente; colaborando ainda mais para que o Brasil continue a ser uma ilha dentro da América Latina.
Estamos dentro de um continente maravilhoso, com culturas diversas que emanam de povos que são incríveis. Há muito o que se aprender aqui dentro, há coisas maravilhosas que nem sequer imaginamos.
Nós somos partes disso aqui, acredite.
30.1.15
como ser despretensioso
às vezes as ideias surgem como vislumbres e nos fazem enxergar melhor aquilo que sempre esteve à frente dos olhos. é isso!, pensamos. : brilhante. ser despretensioso é não se importar demais com a maioria das coisas, principalmente em relação às atitudes cotidianas, afazeres, trabalho, estudo e no relacionamento com as pessoas (sentimentos também). ser despretensioso é dar-se a permissão para fazer o que se quer sem muita culpa ou pesar. a pena que sentimos de nós mesmos por ventura escapa ao controle e nos paralisa. ser despretensioso é não ter pretensão, fazer as coias na inocência, na camaradagem, sem preocupar com consequências que quase sempre nunca chegam. é parar de ver as coisas por cima e entrar nelas, fazer parte do mundo como é, como as pessoas são. pulando de bolha em bolha e conhecendo parcelas cada vez maiores (ainda que mínimas) do todo. ter menos vergonha, beibe. mas o principal mesmo é cobrar menos de si.
27.1.15
nasce 01 novo ser
no meio de uma crise de rinite alérgica e depois de um espirro, pum, nasceu . eis que era um novo ser (a pessoa que o originiou era um alienígena, um ser de outras terras que explorava minas de ouro nesse mundo). o catarro que lhe formava tomou a aparência da matéria mais nobre e atraente, belíssima, mas era só catarro mesmo. andou por aí a ter ideias maravilhosas que revolucionariam o mundo, mas ninguém o ouvia. não andava em busca de respostas pois já sabia todas. todinhas, viu? tinha uma hortinha em casa para, preferencialmente, temperar; andava descalço sempre que podia; era casado mas transava com outras pessoas e ainda metia sem vaselina; peligroso; soltava muita fumaça; dançava tudo o que era música; vivia viajando rodando muito; ele não via sua categoria bem representada nos meios de comunicação. e quando menos esperavam, fazia coisas inimagináveis, transcendentais, que as pessoas não conseguiam sequer descrever. só era amigo daqueles que voavam e aproveitava para pegar caronas para o além. sonhava muito e às vezes relutava em sair dos sonhos para voltar para esse mundo. sua sorte era que, assim como todos os seres, ele um dia iria morrer. "ah, isso alivia", pensava.
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e fazia milagres no paint |
vulgar sem ser sexy
primeiramente porque ninguém precisa ser de jeito nenhum pra agradar ninguém,
principalmente homens brancos cis-heterozzzzexuais de classe média.
a nossa liberdade deve ir além dos padrões opressores
estéticos e morais.
amigo, você é gordo e maravilhoso.
amiga, você é rodada e eu não ligo, acho lindo.
seu cabelo armado dá de dez naquele chapado.
ninguém é culpado, mas também,
por favor,
ninguém é obrigado.
principalmente homens brancos cis-heterozzzzexuais de classe média.
a nossa liberdade deve ir além dos padrões opressores
estéticos e morais.
amigo, você é gordo e maravilhoso.
amiga, você é rodada e eu não ligo, acho lindo.
seu cabelo armado dá de dez naquele chapado.
ninguém é culpado, mas também,
por favor,
ninguém é obrigado.
14.1.15
vontades para 2015
aprender a coreografia de let's have a kiki
graduar-me em comunicação
começar a estudar cozinha
conseguir um trabalho
comprar meu próprio bec
participar de algumas surubas
escrever
planejar a grande viagem
evoluir na análise
gastar menos tempo na internet
e me redescobrir
diariamente
graduar-me em comunicação
começar a estudar cozinha
conseguir um trabalho
comprar meu próprio bec
participar de algumas surubas
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planejar a grande viagem
evoluir na análise
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e me redescobrir
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