29.10.13

¡Qué chimba de parche! - Capítulo 4

Desde então eu ainda não tinha ido ao “banheiro” para satisfazer minhas necessidades fisiológicas sólidas, sendo direto e já com o perdão da palavra. Acordamos e eu decidi que era hora, pois segundo o meu corpo já estava passando. Pois bem, cacei uma moitinha e fiz meu serviço, amém. Me senti com aquela sensação de leveza que com certeza você conhece. Para tudo na vida tem uma primeira vez, amigos, até cagar no mato, meu banheiro entre aspas durante toda a viagem.

A fome apertou e fomos atrás do nosso desayuno. Pedimos a uma moça, moradora de lá, e ela nos fez patacones com queijo. Um patacón é uma banana (banana-da-terra) frita, amassada, e frita outra vez; que além de ser uma delícia, sustenta bastante e fica bem com qualquer acompanhamento. Era o que mais tinha pra comer ali. Porém os patacones demoraram muito e a fome já cavava um buraco no meu estômago. Mas nessa viagem, por nunca ter um supermercado por perto, estar sempre num grupo grande, e estar sempre por aí, me fez aprender a controlar melhor a minha fome e não me sentir mal por comer um pouco menos. Além de agradecer e achar ótimo qualquer prato que comia. Mas o importante é que estava bom demais o café.

Fomos à praia procurar os meninos, e também porque queríamos tomar banho de mar. Ao menos eu e Valeria, porque Kaori queria um banho de chuveiro e já começava a encher o saco de tanto reclamar. Era só o início da performance da mais chata de qualquer viagem que alguém um dia já fez ou fará. Generalizando muito, quase todos os mexicanos do norte, que eu conheço, são frescos ou só querem o bom e o melhor. Caminhamos um bocado e não achamos os diabos. Passamos numa barraca/restaurante/hotel e nos disseram que nenhum grupo com dois morenos e duas loiras tinha passado por ali. Kaori aproveitou e perguntou logo por um banheiro enquanto eu e Valeria corremos pro mar. O Caribe quente que me salvou. Nadamos pelados de novo. Bem, isso foi a coisa que eu mais fiz no Caribe. Ficamos umas horinhas lá e já voltamos.

Já chegando na nossa praia apareceram os meninos. Senti alegria ao vê-los, não sei por quê. Eles tinham voltado à cabana por outro caminho, por isso nos desencontramos. Mas no final todos estávamos juntos e contentes. Pipe tinha colhido cogumelos para fazer um chá alucinógeno.

Passamos a tarde com dona Ana, uma matriarca que vivia ali e já conhecia os meninos. Ela nos emprestou o fogão para que cozinhássemos nosso peixe com patacones. E antes eu tomei um banho no poço porque Valeria disse que eu fedia. Não duvidei.

Foi meu único banho em toda a viagem, que durou uma semana.

só o Caribe salva

28.10.13

aonde eu só veja você, você veja a mim só

7 abr 12: 
"Toda vez que você fuma, está pagando um boquete para Satanás." Mensagens religiosas, até onde? @tallescabral
8 abr 12: 
sua igreja é meu boteco.
6 maio 12: 
alguém me tira dessa vida?
7 maio 12: 
Você é calouro e não tem uma foto com os efeitos bregas dos iMacs do SisLab? Você não é calouro. #RipPauloB
12 maio 12: 
saudoso o tempo em que eu tinha tempo pra ser eu.
28 maio 12: 
Arrisco-me até a dizer que um frasco de perfume pode levantar sua memória afetiva com mais eficiência do que um livro.
11 jun 12: 
Evite cacofonias e ambiguidades. Ao sair seja claro e objetivo. Diga: Vou-me já. @Dicas_do_heman
2 jul 12: 
(d)existência.
13 jul 12: 
que vontade de dar uma
13 jul 12: 
chance pra você.
18 set 12: 
Tinha amor demais no beijo dele.
29 set 12: 
Fazendo idiotices, passando frio, cansaço e sono; mas ganhando ótimas companhias e vivendo horas especiais.
7 out 12: 
En BH se baila así. ¡Hey!
20 out 12: 
Tudo ficaria mais fácil se vendessem paz de espírito no Mercado Livre.
22 nov: 
Hoje tem.
9 dez: 
Passando o tempo... Tum dum pix!
10 dez: 
ai, gente, ainda bem que vcs trabalham em tempo real. nunca saberia que o facebook saiu o ar e daria F5 para sempre. quando voltar me avisem
13 dez: 
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
29 dez: 
Fala que eu sou chato, me dá unfollow, mas por favor, não me pede pra te seguir de volta.
11 jan: 
O brega é um estilo de vida.
9 mar: 
falar de mi  e facil quero ve ser eu
31 mar: 
arrumei saudade.
8 abr: 
Considero que questões da vida se resolve vivendo. Melhor jeito.
24 abr: 
Se você quer odiar alguma coisa, transcreva-a.
31 mar: 
garçonete, por favor, me vê um milkshakespeare.
8 maio: 
Lana das Gay
22 abr: 
nada nada nada nada nada
13 maio: 
O amor é a nossa resistência.(brega)
26 maio: 
vergonha na cara devo tomar
27 jun: 
"Você acordou agora, a periferia nunca dormiu", disse um cartaz.
22 jul: 
a mídia é ninja, mas a polícia é samurai.
12 set: 
vontade de dormir dormir dormir
1 out: 
amarelo deserto e seus tremores #semprecanteierrado
29 set: 
o ruim de andar sensível é apegar-se facilmente a qualquer coisa ou pessoa.
22 out: 
Pois diga que irá viajar, viajar. #SempreCanteiErrado

24.10.13

¡Qué chimba de parche! - Capítulo 3 - San Bernardo del Viento

Chegamos e os meninos já nos esperavam lá. San Bernardo del Viento é uma cidadezinha na costa, mas a praia fica a sete quilômetros da cidade. Estávamos numa comunidade que fica à beira da praia. A vida lá era muito simples e bonita. Rural, tinha vacas, galinhas, hortas. Tinha eletricidade, mas era usada basicamente para iluminar e (às vezes) ligar um refrigerador ou outro. Os fogões eram à lenha. A água era de chuva. Tudo muito simples e isso me fascinou demais. Ver como aquela gente vivia tão bem, parecia tão feliz com tão pouco. Mas é claro que eu só pude perceber isso no dia seguinte. Chegamos à noite, compramos umas coisinhas na vendinha do senhor Ariel, e fomos pra nossa cabana. 

Não era nada além de uma construção em madeira, com dois pisos e teto de palha de palmeira. Uma das nossas instalações mais cômodas em toda a viagem. No escuro organizamos mais ou menos nossas coisas e fomos pra praia. Antes discutimos se iríamos ou não, porque vinha uma chuva e Ariel disse que sim, choveria. No final fomos e ficamos de decidir lá se voltaríamos ou dormiríamos nas barracas na praia.

Andamos mais de dez e menos de quinze minutos para chegar à praia. Não tinha nenhum tipo de pavimentação o caminho. E lá estava ele, o Caribe. Para Valeria, que estava conosco, era a primeira vez que via o mar, e ela dizia o tempo todo que era mágico. Apesar de não estar cheia, a lua iluminava muito, e com o seu reflexo no mar realmente não havia outra palavra pra descrever aquele momento senão mágico.
De repente todos estávamos no mar, nus. Essas são coisas que devemos fazer: loucuras da juventude. Você com quarenta faria? A água parecia de uma piscina climatizada, era quente, mais quente que o ar e a terra, quente que dava vontade de ficar. Nadamos por pouco tempo, não saberia dizer quanto. Valeria não teve coragem de entrar e ficou só na beirinha, eu fiquei sentado com ela por um tempo.

Saí do mar também porque ventava muito e relampejava lá longe. Fiquei com medo de chover e levei todas as nossas coisas para uma cabana vazia perto de onde estávamos. Me vesti e tentei mais ou menos organizar minhas coisas pra ir embora. Metade do grupo não estava com a mínima vontade de ir. Então fomos só eu, Valeria e Kaori. 

Dormimos no chão mesmo, as meninas sobre seus sacos de dormir e eu sobre meu edredom. Eu estava estressado pelo desconforto da viagem e não me sentia tão integrado com o grupo. No final era tudo o contrário. Mas era a primeira vez que eu fazia uma viagem desse tipo, primeira vez que eu acampava, e também estava passando por umas tremendas crises de saudade que às vezes me dão. Então não era fácil.

Dormimos e a chuva veio. O teto da cabana não era perfeito, e pela segunda vez, num dia consecutivo, me molhei. Sorte que dessa vez não foi tanto.

nosso hotel 5 estrelas

18.10.13

¡Qué chimba de parche! - Capítulo 2

Acordamos um pouco antes das 7h no dia seguinte, arrumamos nossas coisas, pulamos do caminhão, tomamos café da manhã (patacones com ovo e leite com chocolate) e caminhamos até a zona urbana de Caucasia. Dois quilômetros no total. O calor era uma coisa inexplicável. Era úmido e nos fazia suar mesmo estando parados. Caminhar por meia hora foi um sacrilégio. Por sorte encontrei a melhor água de coco do mundo no caminho. 

Tentamos em vão conseguir uma carona para seguir. Percebi que culturalmente a Colômbia não é muito diferente do Brasil nesse aspecto. Toda a gente muito desconfiada, com medo da violência. Algo perfeitamente compreensível, uma vez que estávamos na Zona Roja, ou seja, uma área onde a atuação da guerrilha é grande. A Colômbia sofre um conflito armado paramilitar há mais de cinquenta anos, o que realmente é uma mancha na história recente do país.

Ao final negociamos com os motoristas de ônibus para nos levar a um valor (bem) reduzido. Foi difícil, mas conseguimos. Fomos de ônibus até Montería, capital de Córdoba. De lá pegamos outro ônibus, outra vez na base da pechincha, até Lorica, nossa última parada antes de San Bernardo del Viento, na costa. Chegamos lá pelas 16h e gastamos como 13 mil pesos (16 reais) desde de Causasia. Percorremos mais da metade do caminho total, então foi bastante barato. Aproveitamos Lorica para sacar dinheiro, usar a internet para avisar nossas famílias que aquele era o último pedaço de civilização em que pisávamos (num sentindo muito superficial da palavra, óbvio).

Em Lorica conhecemos um amigo de Pipe. Agora não sou capaz de lembrar seu nome. Mas era um costeiro alegre, simpático. Tirou até fotos conosco. Os meninos compraram ñeque, uma bebida feita com cana-de-açúcar que lembra cachaça e ao mesmo tempo pisco peruano. Tinha um sabor suave na boca, mas era bem forte.

Fomos pra beira da estrada outra vez. Muitos carros paravam, mas cobravam. Demorou mais de uma hora até que um carro parou e deu carona a quatro de nós. Depois os meninos nos contaram que quem dirigia era o prefeito da cidade, e que lhes ofereceu uma cabana, mas nunca voltou pra dizer nem oi. Esperamos por mais uma hora, Isabel, Pipe e eu. Fui com o amigo de Felipe comprar choripapas (linguiça com batata). No caminho ele veio me perguntar da Copa. Praticamente todas as pessoas que me conhecem aqui me perguntam sobre os seguintes assuntos:

  • Copa do mundo
  • Futebol em geral
  • Protestos
  • Mulheres (prefere colombianas ou brasileiras?)

Morro de preguiça. E também estávamos cansados. Resolvemos então pagar um motocarro até a praia. Carona que cobrava era o que não faltava.

Era mais ou menos assim

16.10.13

¡Qué chimba de parche! - Capítulo 1

Marcamos de nos encontrar às 6h30 na estação de metrô Acevedo. Tínhamos em mente chegar ao litoral caribenho da Colômbia, no departamento de Córdoba, viajando de carona e acampando em cada destino para economizar o máximo. Chegamos quase na hora combinada, mas tivemos que esperar mais de uma hora pelos outros. Éramos sete no total: Eu, Nathalie, Isabel, Kaori, Felipe (Pipe), Valeria e Germán. Do metrô seguimos para uma espécie de estação de caminhões, na rodovia, de onde saíam muitos que iam em direção ao nosso destino. Conversamos com os caminhoneiros, ou melhor, Pipe e Germán conversaram, pois eram os únicos colombianos do grupo, já haviam viajado nesse esquema e eram menos fáceis de ludibriar. Tivemos que esperar até às 13h por um caminhão. Dormi quase três horas em cima da minha mochila, pois enfrentava um período duro de insônia agregado a percevejos no meu colchão.

Conversamos com um senhor que ficou de nos levar, mas seus companheiros nos advertiram que ele nos faria pagar antes, passaria por algum posto policial para que nos vissem e nos fizessem descer, e então ele seguiria viagem. Pipe perguntou a ele se nos garantia segurança e ele ficou muito bravo. No fim das contas não sei o que aconteceu (é difícil viver em outro idioma), mas fomos com ele. Pagamos 100 mil pesos pela viagem antes de arrancar. Os outros 60 mil ficamos de pagar na chegada. No total a viagem nos custou a metade de uma passagem de ônibus. 160 mil pesos colombianos valem como 180 reais.

O caminhão transportava gado, mas no momento estava vazio. Não estava muito sujo. Merda de vaca não fede e quando está seca não é nada. Também havia uma lona para que nos deitássemos sobre, e assim seguimos, todos deitados para que ninguém nos visse. 

O combinado era que ele nos levasse até Caucasia, a última cidade do departamento de Antioquia (de onde saímos) antes de Córdoba (para onde íamos). São 287 quilômetros, que um ônibus faria em cerca de seis horas. As viagens na cordilheira são longas por causa do relevo.

Demoramos muito. O cara era um pouco estranho, viajava no ritmo dele, parava diversas vezes e ficava muito tempo. Passávamos o tempo conversando, cantando e nos conhecendo melhor. No início da viagem um policial rodoviário me perguntou de onde éramos. Disse que era brasileiro e que os outros eram cada um de um país. Não sei porquê, mas não aconteceu nada com a gente, seguimos a viagem normalmente. Quando subimos para um lugar mais alto, o ar ficou muito frio e o vento que entrava pelas frestas do caminhão era de morrer. Quando a noite caiu choveu. Choveu muito. O bastante para nos molhar e todas as nossas coisas. Todas as nossas roupas úmidas. Era tudo o que precisávamos para uma viagem em que não teríamos sequer um banheiro para usar.

Chegamos às 22h, num posto na entrada da cidade. O dono do caminhão ia dormir aí, num hotel de beira de estrada. Ele disse que podíamos armar nossas barracas na carroceria do caminhão. Armamos e fomos comer no restaurante do posto. Já estavam fechando e comemos os três últimos sancochos (uma espécie de caldo de frango) entre sete pessoas. Comprei um pacote de pão para complementar. 

Dormi na barraca com Kaori, uma mexicana. Pipe, Germán e Nathalie saíram para andar um pouco e fumar um baseado antes de se acostarem. Antes de dormir ainda escutei os meninos cantarem no caminhão.

Nosso ninho antes da chuva

7.10.13

Paisa

Às vezes tenho a sensação de que já perdi um pouco do manejo com a escrita. Tem tempo que não venho aqui. Meu lance com a escrita é complicado. Em cada momento da minha vida ela representou alguma coisa. Desde 2011 ela foi uma válvula de escape para a tristeza e o incômodo, eu me expressava melhor metaforicamente (vide cão). Por isso passei um ano sumido... porque já não andava mais triste. Tinha encontrado uma outra válvula de escape pras minhas neuroses. Infelizmente foi uma má opção, inconsciente, mas péssima. 
Passo aqui para cumprimentar, mais que qualquer coisa. Dizer olá e contar uma novidade. Como um velho amigo que aparece de repente... É impressionante o que é o sentimento de nostalgia para um. Não, as aves aqui não gorjeiam como lá.
Estou na Colômbia, na cidade de Medellín. Aqui nasceram Pablo Escobar e Fernando Botero. Dois opostos para representar qualquer coisa que você quiser. Estou aqui há dois meses e fico mais quatro. Estar longe do meu país me faz sentir de muitas maneiras diferentes, dependendo do momento. No início dá medo, assusta. Depois impressiona, fascina. Depois acostuma, mas continua tudo lindo. A saudade é permanente. Às vezes tenho crises e aí começa a chover aqui. O que mostra que numa viagem nem tudo são flores, tem partes muito duras.
Aqui me sinto muito bem porque as pessoas me recebem muito bem. São incrivelmente educadas, corteses, gentis, simpáticas, sempre dispostas a ajudar. A cidade tem um clima perfeito, com uma média de temperatura que varia entre 16ºC e 26ºC, no meio das montanhas centrais da Cordilheira dos Andes.
A cidade parece muito imponente. Não em relação a ela mesma, mas a ela para alguém. O que quero dizer é que a cidade te faz senti-la o tempo todo, porque a cada lugar que você olha, a vê até muito longe, subindo os morros longe... Sei lá.
No momento estou mantendo mais ou menos esse outro blog, em que conto uma coisa ou outra daqui. 
Quando me perguntam por que Colômbia, eu até hoje busco pela resposta, mas a cada dia tenho mais certeza de que fiz a melhor opção.

Com o gato de botas. Tô meio cabeludo, não ligue.

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