Saí.
Uma vez.
Sim.
Porque era fácil.
Considerei.
Achava que podia ter tudo.
21.12.12
18.11.12
Itaobim
Aquele lugar em que tudo deu errado, aquele lugar onde foi bem e mal tratado, aquele lugar onde tudo era bagunçado. Onde conheceu muita gente, onde fez o que queria fazer, e o que queria não ter feito. Onde foi cão, onde foi gato, onde andava a pé e sem sapato. Aquele lugar que tinha dois sóis, que tinha manga (mas não viu manga), que tinha seis opções de carne no cardápio. Aquele lugar onde brincou, cantou, dançou, se embebedou, conversou, filosofou, disse o nome de alguém três vezes, fez fogueira, andou no frio e no escuro, se estressou, esperou, amou, sorriu, dormiu no aconchego do melhor dos abraços. O lugar que tinha nome indígena (como tudo, como tudo...), que tinha sons. Aquele lugar que era dividido ao meio por um caminho onde passavam monstros com grandes corcundas que corriam muito rápido e tinham olhos de luz. O lugar onde tudo aconteceu, o lugar das expectativas no lugar das realizações. Aquele lugar que no fim choveu, chorando de saudade, do adeus que ninguém deu, sabendo que talvez, mais cedo ou quiçá mais tarde, esteja um dia de novo no horizonte, de sonho ou de verdade.
Aquele lugar que me fez escrever poesia em forma de prosa.
27.10.12
Complacência
Olha quem voltou. E dessa vez nem foi com o rabo entre as pernas. Não, senhores. Agora ele volta andando sobre suas quatro patas, com seu pelo sujo como sempre, o rabo imóvel e um leve rosnado nos dentes. Diretamente do beco mais sujo da cidade, movido pela dor, saindo do escuro, com vocês... o cão. Sem pompas, meus caros, ele gosta de atenção, mas acha que a falsidade duma plateia não traria nada de positivo ao seu sentimento. Na língua em que ele se comunica comigo (não me perguntem qual, por favor), ele diz que prefere um chute que um falso afago. Mas o problema é que ultimamente ele tem recebido chutes demais. Porém ele não sabe de qual direção vêm, se vêm do seu dono ou se vêm dele mesmo. Sim, agora ele tem um dono, só não havia contado a novidade para vocês porque ele só aparece nas horas difíceis, é um cão cheio das neuroses, senhores, cuidado. Mas voltando ao mote do que o traz aqui, ele bem acha possível que podem vir das duas direções, os chutes eu digo. Tolinho que é, sempre acaba lambendo quem o bate ao invés de lamber suas próprias feridas. Mas esse cão, tão sofrido, lembra que também já mordeu. Já mordeu sem querer, mas mordeu. É que basta chamá-lo, e ele vai. Mas agora não vai mais, apanhou por dentro. Mas será que merece tanto o Totó, ou será que é o Totó que sente dor demais com um tapinha à toa? Ele não sabe, só sabe que não quer mais apanhar. Qual é o cão que não é carente, qual é o cão que não implora por um afago? Tomar uma surra de consciência pode ser bom, mas um carinho às vezes cai bem.
Conrado Miguel
22.10.12
20.10.12
Tristeza de verão (igual a chuva)
Por que tristeza de verão? Como a canção daquela moça que usa filtros nos seus vídeos, tudo passa; a canção, e a moça também. A tristeza de verão vem forte e vai logo, que nem a chuva nessa época. Chega de repente, abafa ainda mais o tempo, depois passa e tudo volta ao normal. Aquele calorzinho gostoso, o sol nas nossas faces aquecendo a alma e o coração. Vamo tomar um banho pra refrescar.
- Mas aí não esfria?
Esfria não, nosso calor é mais forte.
- Adoro quando você ri comigo, fica mais espontâneo. Vamo lá.
E na piscina rasa aprendendo a nadar, a gente aprende também a amar e a perdoar. A gente toma a chuva que cai rápido, lava tudo o que tiver de sujo e ruim e fica só nosso calor, nossa paz e nós.
Hoje me ofereceram batata e refrigerante, mas acho que prefiro ficar aqui pra você.
Para José.
11.10.12
José,
E agora, José?
A festa acabou,
mas quero você pra curar minha ressaca.
A luz apagou,
mas não quero te ver com medo do escuro.
O povo sumiu,
mas você não está sozinho.
A noite esfriou,
mas meu cobertor, desde o início, é seu também.
E agora, José?
e agora, eu?
eu que tenho dois nomes,
que zombo dos outros,
que erro.
Eu que faço versos,
que amo, protesto
e agora, José?
Estou sem alegria,
estou sem discurso,
sem palavra
estou sem carinho,
não quero beber,
não quero fumar,
queria cuspir o que eu fiz,
queria ter escarrado minha incerteza,
antes
mas a noite esfriou,
então vem me esquentar.
O dia seguinte veio,
você veio junto,
mas seu riso não veio,
não veio a utopia
mas não precisa acabar
não precisa fugir
ainda não mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu abraço forte
seu instante de febre,
nosso jejum
minha incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
a porta já está aberta;
quer nadar no rio,
que está ali do nosso lado;
quer ir para Minas,
Minas é aqui.
José, e agora?
Se você gritasse,
mas você é maior que isso.
Se você gemesse,
pra mim apenas.
Se você tocasse
a valsa vienense,
rubinense, almenarense,
a nossa valsa.
Se você dormisse,
se você cansasse,
dorme comigo, descansa comigo.
Você é forte,
você é lindo, José!
Com você no escuro
com vergonha de tudo,
sem saber a hora certa
pra pedir desculpa de novo.
Sem uma pele nua
para me enroscar,
sem cavalo preto
que nos leve pra longe,
nós marchamos, José
José, para onde?
Zé, se você não acredita no Caio, acredita em mim. Minha certeza é você. Desculpa pra sempre. Um beijo apertado.
Conrado
A festa acabou,
mas quero você pra curar minha ressaca.
A luz apagou,
mas não quero te ver com medo do escuro.
O povo sumiu,
mas você não está sozinho.
A noite esfriou,
mas meu cobertor, desde o início, é seu também.
E agora, José?
e agora, eu?
eu que tenho dois nomes,
que zombo dos outros,
que erro.
Eu que faço versos,
que amo, protesto
e agora, José?
Estou sem alegria,
estou sem discurso,
sem palavra
estou sem carinho,
não quero beber,
não quero fumar,
queria cuspir o que eu fiz,
queria ter escarrado minha incerteza,
antes
mas a noite esfriou,
então vem me esquentar.
O dia seguinte veio,
você veio junto,
mas seu riso não veio,
não veio a utopia
mas não precisa acabar
não precisa fugir
ainda não mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu abraço forte
seu instante de febre,
nosso jejum
minha incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
a porta já está aberta;
quer nadar no rio,
que está ali do nosso lado;
quer ir para Minas,
Minas é aqui.
José, e agora?
Se você gritasse,
mas você é maior que isso.
Se você gemesse,
pra mim apenas.
Se você tocasse
a valsa vienense,
rubinense, almenarense,
a nossa valsa.
Se você dormisse,
se você cansasse,
dorme comigo, descansa comigo.
Você é forte,
você é lindo, José!
Com você no escuro
com vergonha de tudo,
sem saber a hora certa
pra pedir desculpa de novo.
Sem uma pele nua
para me enroscar,
sem cavalo preto
que nos leve pra longe,
nós marchamos, José
José, para onde?
Zé, se você não acredita no Caio, acredita em mim. Minha certeza é você. Desculpa pra sempre. Um beijo apertado.
Conrado
25.9.12
Como dançar numa festa chata
Geralmente em festas chatas, o pen drive que estiver conectado vai ter apenas música eletrônica ou música pop remixada. Esse tipo de canção costuma evoluir gradativamente desde um ritmo mais lento até uma batida mais animada. Na primeira fase da música, levante um dos braços, coloque perto da cabeça e faça movimentos mais ou menos circulares com o corpo (não é pra rodar, é pra balançar), enquanto curva levemente os joelhos, lembre-se que não é funk, não desça até o chão; uma boa pedida é deixar os olhos semicerrados, assim parece que você está aproveitando a festa e sabe o que está fazendo, além de permitir observar os outros discretamente para saber a cara que fazem ao ver sua coreografia, podendo, é claro, melhorá-la. Mas fique tranquilo, isso quase nunca é necessário. Isso também serve para saber se alguém está interessado em você. A festa pode ser ruim, mas isso não significa que as pessoas que estão lá o sejam de todo, portanto aproveite. Quando o ritmo começar a sair da fase lenta mude a dança, agora ela ficará um pouco mais rápida, mas não exagere. Deixe as mãos levantadas na altura do pescoço e mexa-as num movimento que se assemelha à mixagem que um DJ faz num disco, as duas ao mesmo tempo; mexa também as pernas no ritmo em que a música estiver. Mas atenção, não é forró pra dar dois pra lá, dois pra cá; muito menos arrocha pra fazer a meia-lua. Agora que a música atingiu seu ápice é hora de se jogar. Continue nesse movimento, mas agora mais rápido e balance a cabeça. Se você tem cabelo o efeito visual é ótimo, incremente também com movimentos seus. Essa é a hora de fazer aquilo que você viu no clipe do Chris Brown, mas nunca teve a oportunidade de usar. Pular também é bom. Mas cuidado para não errar na dose. Quando começar a tocar Latino, vá embora.
19.9.12
Pequena crônica da alegria instantânea
Um punhado de estresse pode estragar o seu dia, mas uma gota de alegria certamente o torna muito melhor
Chamaram o moleque de gordo, ele realmente estava. Gordo era exagero, vá lá, mas magro também já deixara de ser há tempo. Ele começou a fazer uma dieta, desde então só pensa em comida e fome é uma palavra muito sensível no seu cotidiano. Tentava distrair a cabeça, tentava pensar em outra coisa, qualquer coisa... O peixe de estimação do seu primo servia, mas só conseguia imaginar ele frito. Começou a fazer caminhadas, mas levou um bolo do seu amigo. Tem nem motivação, né irmão. Nos dois últimos dias ele se estressava com tanta facilidade; uma mensagem não respondida, qualquer coisa que não dava certo. Não sei o que é, se eram os outros que realmente mereciam sua raiva ou se tudo isso era sem razão. Mas ele sabia que independentemente disso não fazia bem pra ele o sentimento. Ainda assim não queria reprimir, não queria guardar no coração, melhor sair do que ficar, né, pôr pra fora o que te faz mal. (e se isso faz mal pros outros?)
Mas bom se acontece qualquer coisa que o deixa melhor. Aí ele pegou o ônibus. Tá demorando de passar... merda. Tá lotado... caralho. Senta na frente, fica mais perto do motorista, vai vendo as coisas de outro ângulo, nunca tinha sentado ali antes, que legal, vejo melhor os pontos, nossa, quantas pessoas batem a mão pra ele parar, vê como ele controla tudo, tantos botões, curva por ruas estreitas, abre portas, olha pelo retrovisor pra fechá-las na hora certa e não machucar ninguém, sempre responsável, respeitando o sinal, sem pressa. De repente começaram a acontecer coisas divertidas no trajeto. Um moleque queria pegar o ônibus no ponto errado, e o motorista, gentilmente, disse pra ele ir pro ponto de trás. O trânsito começou a pesar. Quando me dei por mim o ônibus tinha parado transversalmente na avenida Afonso Pena, fechando um dos sentidos dela completamente.
Mas bom se acontece qualquer coisa que o deixa melhor. Aí ele pegou o ônibus. Tá demorando de passar... merda. Tá lotado... caralho. Senta na frente, fica mais perto do motorista, vai vendo as coisas de outro ângulo, nunca tinha sentado ali antes, que legal, vejo melhor os pontos, nossa, quantas pessoas batem a mão pra ele parar, vê como ele controla tudo, tantos botões, curva por ruas estreitas, abre portas, olha pelo retrovisor pra fechá-las na hora certa e não machucar ninguém, sempre responsável, respeitando o sinal, sem pressa. De repente começaram a acontecer coisas divertidas no trajeto. Um moleque queria pegar o ônibus no ponto errado, e o motorista, gentilmente, disse pra ele ir pro ponto de trás. O trânsito começou a pesar. Quando me dei por mim o ônibus tinha parado transversalmente na avenida Afonso Pena, fechando um dos sentidos dela completamente.
- Ê, Wilson, fechou o trânsito, hem!
Disse o cobrador, irreverente, e depois os dois começaram a rir, tentando entender o que acontecia na rua dos Caetés e ao mesmo tempo não dando a mínima pra rua fechada e pros carros afunilados no cruzamento. Os motoqueiros passavam pelo espaço mínimo entre o ônibus da frente e o meu. Os outros carros buzinavam e vez ou outra eles reclamavam de leve.
- Cadê a BH Trans nesses momentos?
Agora pausa para um momento traquino, e certamente o ápice do dia. A pedido do trocador, insistente e sorridente, o motorista fechou uma mulher estridente que achava que seu carro tinha o poder da Lince Negra.
- Abre a porta, agora, abre! - ele parecia um menino de 12 anos.
Tsssssssssss. E os passageiros começaram a entrar, fechando e irando ainda mais a mulher. E a gente se divertindo lá dentro do ônibus... Depois passei pela roleta. Não tinha troco pra mim. Mas com toda aquela simpatia.
- Posso te dar o troco depois?
Claro que pode.
- Onde você desce?
- Na Floresta.
- Beleza!
Dentro do ônibus me ofereci pra segurar a mochila de uma menina bonita que estava vestida de azul. Não era uma camisa do Cruzeiro. Mas tinha um cara com a camisa do Galo bem do meu lado. Não podia ser perfeito, né. Na hora de descer nem me dei conta que tinha esquecido de pegar o troco.
Não faz mal, tinha comprado meu dia.
25.8.12
17.8.12
Borbulhas de amor
Quando cheguei em casa voltando das férias que passava também em casa, mas em outra (é que são muitas), vi um peixe em cima da cômoda. Aff, um peixe. Eles não têm nada demais, não correm, não brincam nem lambem. Eu sempre pensei que eles ficassem presos demais. Cães também ficam, só estão em aquários maiores. Gatos também, todos eles, ligados a nós por uma coisa chamada alimento e outra, carinho. Engraçado é que Conrado está de férias, senão ele nem ia mencionar o peixe. Meu priminho queria levá-lo pra fazer cocô e dar banho nele, e sua mãe estava chateada porque eu não conversava com o bicho. Bem, essa é a minha família. No fim também estamos presos. Já chega de filosofia. Vocês ficam aí pensando bobagens e o meu peixe nada. Nada.
Mas eu juro que hoje eu vi ele tentando quebrar o aquário.
30.7.12
Era uma vez um jornalismo [Caio Paranhos] #3
O jornalismo literário é um tema controverso pra quem o estuda, pra quem o
faz, e talvez até pra quem o lê. É, a princípio, uma contradição: se é
jornalismo não pode ser literatura, porque literatura trabalha com
ficção e jornalismo com a verdade, ou pelo menos com aquilo que mais se
aproxima dela. Dentro do que é mais plausível é melhor dizer que um dito
jornalismo literário trabalha com os fatos de uma forma diferente,
tanto pela forma como trabalha com eles quanto pela estética do texto.
As pautas desse tipo de jornalismo buscam ser inovadoras, trazem
questões e pontos de vista que o jornalismo padrão não explora, e além
disso há uma preocupação com o estilo da narrativa, esse é aliás o ponto
central: o jornalismo literário busca narrar. João Moreira Salles,
fundador da piauí, diz inclusive que essa nomenclatura é inadequada e
sugere o termo jornalismo narrativo, porque o adjetivo literário é
restritivo e descretida o jornalismo. Nas mídias tradicionais em geral a
cobertura é rasa, as entrevistas são feitas comodamente por e-mail ou
telefone, as pautas não têm originalidade, os textos são mau escritos e
não dão conta da complexidade dos acontecimentos. Acredito que o
jornalismo literário (ou narrativo) parte da indignação com esse uso do
jornalismo e com a vontade de se fazer um trabalho
melhor. Ele não joga fora as técnicas da redação, apenas faz outro uso
delas, tentando ultrapassar os limites do acontecimento. Há também
outras formas alternativas de se fazer jornalismo e também subgêneros
dentro do jornalismo, como o gonzo, onde não se difere o fato da ficção,
o romance-reportagem e a biografia, por exemplo.
Referências
A (im)pertinência da denominação "jornalismo literário", Vitor Necchi
O jornalismo Literário como gênero e conceito, Felipe Pena
Post originalmente publicado no blog da disciplina Projetos A2 (s2) do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Orientador: Prof. Doutor César Guimarães. Monitora: Cacá Maia
22.7.12
Como um cão
Todas as pequenas coisas que você diz e faz... Esses dias o cão, aquele mesmo que você já tá cansado de ouvir os uivos e latidos, me contou uma coisa. Eu sei que já disse que ele não fala português, nem inglês, nem espanhol, nem nenhuma outra língua de gente, mas eu tenho minhas maneiras de compreendê-lo, ou de tentar, enfim. Ele me contou que esteve em casa, mas como ele pode ter uma casa se ele é um cão de rua, um vira-lata sem dono? Mas a rua veio depois de uma casa, ou está logo ali na frente dela, e você acaba tendo que passar pela rua pra entrar na casa. No fim das contas é um caminho. Então, ele me disse que esteve lá e foi adotado. Pela terceira ou quarta vez. Ele não cansa disso. Ou cansa, mas sempre tá aí, porque talvez ele pense que pode ser diferente. Ele sempre foge, ou expulsam ele de casa, e ele volta pra rua. Dessa vez não aconteceu nenhum dos dois, mas que coisa, ele continua sem dono. Que cão azarento do caralho. Mas são as circunstâncias, ou, bem, os níveis e graus de relação e vivência que a nossa sociedade de gente acaba levando pra sociedade dos cães. Aqueles que dependem sempre de nós. Mas o cão salvou. E isso fez bem pra ele. O cão ouviu dizer que vêm mais cãezinhos por aí. E isso não fez tão bem pra ele. O cão viu outros cães, o cão viu outras cadelas e até um cão que queria ser gato ele viu. E o mais engraçado é que o cão que queria ser gato pensou que ele era um gato. Olha o que a vontade não faz com as pessoas. Ops, com os cães.
Eu insisto em confundir.
Conrado Miguel
2.7.12
Tolo sem ouro
Um olhar estético sobre a vida te faz refletir: o que você quer, benzinho? No último fim de semana eu estive em Ouro Preto. "Não vou jogar essa bituca de cigarro nesse chão histórico", disse meu amigo. "Procure, então, uma lixeira histórica", respondi com meu senso de humor cada vez mais deteriorado. Pelo tempo e pelo vento. Diferentemente daqueles casarões repletos de verbas públicas. Mas que tem? Meu estômago também está cheio delas. Não fazer turismo numa cidade turística pode ser interessante se você não desperdiça a viagem com existencialismo. Ensina o coleguinha então, porque tá foda o negócio. Congresso de Ciências da Comunicação da Região Sudeste. Aposto que devia ter uns três nego lá que sabiam o nome do evento. Mas como a maioria, eu também não estava lá somente por ele.
Longe dos museus, não vou cantar meu estado como fazia Drummond e Sabino, nem andar sobre os arcos do viaduto Santa Tereza como também faziam eles, apesar de só me faltar a coragem. Nem sei se teria razões pra fazer isso se cada lugar desse lugar que eu conheço é tão diferente, e lembrar minha infância no Jequitinhonha às vezes me faz sentir sem lugar. Mas eu acabo criando simpatia por eles. Os lugares.
Cantar Ouro Preto não é algo que eu faria também. No máximo contar, mas bem... Deixa pra lá. Pri disse que talvez eu esteja encontrando mais possibilidades de expressão assim. E desculpe-me se te enfado com meu internalismo excessivo, mas... bem, por enquanto é isso.
25.6.12
Em que consiste a "aventura epistemológica" de Jesús Martín-Barbero?
Se quiser falar de amor, fale com o Marcinho. Vou te lambuzar, te encher de carinho.
Jesús Martín-Barbero considerava o receptor como totalmente ativo nos processos comunicacionais. O sentido não está no produto, mas sim na relação da produção com o receptor. Ou melhor, em suas relações. Sua aventura epistemológica foi, sobretudo, fazer uma teoria adequada ao contexto cultural, político e histórico da América Latina. E a partir disso ele trata de questões como o massivo e a cultura popular. A América Latina é, por excelência, extremamente mestiça, e é nessa mestiçagem que estão embasadas suas culturas. Os produtos chegam até o povo, ou até nós, e encontramos maneiras de nos apropriar disso, e aí entram as mediações e as brechas. A construção de sentido através da recepção leva em conta a institucionalidade, relações com os gêneros, marcadores como classe social, classe econômica, religião e até mesmo o lugar onde a TV se encontra na casa, por exemplo, e com quem se assiste. Além disso, as pessoas encontram nas mediações maneiras de fazer com que suas tradições populares culturais entrem no massivo, naquilo que é produzido por uma cultura hegemônica para eles. A dublagem de filmes e programas estrangeiros seria um exemplo disso, que logicamente vai muito além. A identificação étnica com personagens de telenovela, a maneira como as pessoas veem televisão, o que assistem, por quê e como se apropriam disso também são exemplos dessas relações. Mas Martín-Barbero não considera apenas o momento da recepção, mas também o que vem antes e depois dele. O que passou na TV ontem é a pauta de muitas conversas de hoje, além nas influências no consumo que isso traz. Enfim, Martín-Barbero se aventurou ao trazer o povo à tona, fazendo com que os processos de recepção sejam tão importantes ou ainda mais que os processos de produção. Para nossa alegria.
18.6.12
As melhores pesquisas no cata-corno Google
É nas estatísticas que eu vejo que ninguém me lê.
pessoas que querem ser amigas do thalisson de jaboticaba no orkut
Se for add, deixa scrap.
cidade ideal dos rebeldes
Antes era a Cidade do México, agora é São Paulo.
atores travestidos
Crossdressing é a tendência do inverno.
posno prase aca lukas
Realmente.
como a mídia vende produtos massificados
Olha o produto massificado! Tá barato! A dona vai querer?
uma redação falando sobre minhas férias
Cibercola.
sexo toba guei
Discípulo do Pasquale.
blog meu professor de história
Não é esse.
descrição masturbação
Três letras: Fap
a murta que geme
Com a masturbação acima
vida de macho
Não dou pinta de macho, mas todos desconfiam que eu sou.
sexo artístico
É aquele que você faz ouvindo Bach ou o gemido da murta.
pessoas que querem ser amigas do thalisson de jaboticaba no orkut
Se for add, deixa scrap.
cidade ideal dos rebeldes
Antes era a Cidade do México, agora é São Paulo.
atores travestidos
Crossdressing é a tendência do inverno.
posno prase aca lukas
Realmente.
como a mídia vende produtos massificados
Olha o produto massificado! Tá barato! A dona vai querer?
uma redação falando sobre minhas férias
Cibercola.
sexo toba guei
Discípulo do Pasquale.
blog meu professor de história
Não é esse.
descrição masturbação
Três letras: Fap
a murta que geme
Com a masturbação acima
vida de macho
Não dou pinta de macho, mas todos desconfiam que eu sou.
sexo artístico
É aquele que você faz ouvindo Bach ou o gemido da murta.
14.6.12
Cão de mel
Ele não é doce mas queria ser. Ele tem sono mas não quer dormir. O buraco é mais embaixo, Totó. Hoje ele contou pro seu amigo que descobriu coisas terríveis. Coitado do cachorro, se preocupou à toa. O que ele descobriu não é terrível, só é desconfortável, como ele mesmo diz. É desconfortável se aventurar, ousar, descobrir, sair do sofá. E ele não tá falando daquele povo tosco que manda você desligar a tevê e despregar o cu do sofá. Não. Mudar de canal já é desconfortável. É desconfortável entrar também, dentro de si mesmo, buscando aquilo que nem você sabe onde tá, só sabe que tá em você.
A língua dele tá queimada "do próprio veneno", disse outro cão que queria ser cadela. Ele é ácido mas não queria ser. "O controle dos esfíncteres está ligado ao medo", disse a maior cadela de todas. Por isso mijar de medo faz sentido. "Descobri outro ponto: imitar o outro para ser amado", continuou latindo. E o outro cão aqui só ouvindo, e rosnando baixinho. A formação reativa do outro cachorro não despiora o caralho que for que você use pra se defender. Para de racionalizar, porque o buraco é mais embaixo, Rex. Muito mais. Aquela moça, daquele programa, disse que se você não se ama, dificilmente vai ser amado por muito tempo pelos outros. Com licença, Luciana, mas eu acho que é fácil falar. Qual foi a outra coisa mesmo que a cadela disse? Enfim, algo a ver com essa coisa dos medos da chuva. Por que nunca aprendi a dançar forró?
Nós não nascemos pra morrer, comandante, nascemos pra viver. A morte só tá no fim, mas qualquer outra coisa podia estar lá. Ela queria estar no fim, e está mesmo.
Pelo menos tem alguém conformado nessa porra toda.
Conrado, Caio, Pri e em breve Cris
7.6.12
Abandonados cães
Esse cão confuso... Muito mais preocupado com sua cachorrice do que com o que fazer com ela. O que ele arrumou dessa vez? Latiu, uivou, estava no cio (como sempre, todos já sabem), mas isso é só o trivial. O que ele arrumou de verdade? Quem vai dizer? Ele, por suposto, não vai, porque ele é um cão e não fala português. Alguns dizem que ele entende melhor o inglês, mas ainda não é capaz de dizer how much it hates you. É it, meu amigo, porque sim, ele é mesmo um cão. Mas o que aconteceu com ele? Por que odiar, ele não era o cão do amor, o cão que não mordia e ainda ensinava a afagar? Bem... é que ele não sabe mais. Ele nunca sabe de nada, não é? Ele quis amar, ele encontrou aquele tapete, ele foi adotado, mas... É. Não adiantou. Yo me propongo ser de ti, una víctima casi perfecta. Castelhano ele também não fala. O que acontece quando dois cães entram no cio? Eu acho que ele tava no lugar errado, na hora errada, com o cão certo. Isso se é que existe um cão certo, mas ele estava numa posição errada. O dono dele ainda paga caro naquela psicóloga de cachorro... Todos os caras, todas as meninas, tudo o que importa no mundo.
Importa?
Conrado Miguel, au-au
29.5.12
Tudo que eu sempre sonhei
Sempre pensei que aconteceria. De criança acreditava nos adultos, que era só pagar pra ver. Feio, meio assim desconfiado, perna em xis já barrigudo, duvidando que eu conseguisse crescer. Mesmo assim, contudo, o tempo foi passando e eu fui adiando, mudo, os grandes dias que ia conhecer. Quem sabe amanhã, próximo ano, Cebolinha com seus planos infalíveis ia me ensinar a ser: forte, corajoso, bom de bola, um dos bonitos da escola, muito embora eu não fizesse questão. Ainda bem que eu sou brasileiro, tão teimoso, esperançoso, orgulhoso de ser pentacampeão. E por fim cresci, de insulto em insulto eu me vi como um adulto, culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei. Olho e não encontro, penso se não fui um tonto de acreditar no conto do vigário que escutei. Não tem carro me esperando, não tem mesa reservada, só uma piada sem graça de português. Não tem vinho nem champanhe ou taça, só um dedo de cachaça e um troco magro todo fim de mês. Mas bobagem, quanta amargura, eu já sei que a vida é dura, agora é pura questão de se acostumar. Basta ter coragem e finura e o jogo de cintura aprendido dia a dia, bar em bar. Pra que reclamar se tem conhaque, se na tevê tem um craque e o meu timão só entra pra ganhar? Pra que imitar Chico Buarque, pra que querer ser um mártir se faz parte do momento se entregar? E por fim tem até namorada, bonitinha, educada, séria, tudo o que mamãe vive a pedir. Tem beijinho e também trepada e a consciência pesada a cada nova vontadinha que surgir. De outra mulher, de liberdade, de um amor de verdade, de poder fechar os olhos e sorrir, pensando que então, dali pra frente, seja qual for tua idade, o melhor ainda vai estar por vir. Tudo o que eu sempre sonhei. Tanto que eu consegui. É tão bom estar aqui... Eu sei.
Pullovers
19.5.12
Um, dois, três cãezinhos
Ontem a rua estava cheia de cães. Fui parar num canil outra vez. Mas agora não acompanhado de cadelas, e sim de outros cães como eu. Acompanhado mesmo eu estava só de um, os outros eram daqueles que se agregam já estando em bando e não se agregam de verdade. Companhias mais rasas que as ditas profundas, daí você imagina a distância. Tão perto e tão longe. Vi muitos outros cãezinhos, uns latindo, outros uivando. Eu, você já sabe o que estava fazendo. De praxe. Cheirei o cu de alguns, tentei entrar no meio, com receio da agressividade, tentei disfarçar que não era um vira-lata daquele beco, que estava urinando num território que já tinha dono. Ninguém me mordeu. Quer dizer, morderam sim, mas não foi de agressividade e a história é longa. Longa não, é curta. Um cão chega, cheira seu cu e te morde. Mas não te morde querendo te morder. Você ensina pra ele que morder não é legal, que o dente não é feito pra dar carinho. Que o amor é macio. Ou devia ser. Mas não existe amor na nossa espécie, Canis lupus familiaris. Aqui a gente briga por ossos, a gente briga por fêmeas, a gente briga por tudo.
Voltar a uivar eu não volto, porque me toquei que disso eu nunca deixei. Mas eu ainda procuro qualquer tapete de bem-vindo. Adote.
Conrado Miguel
13.5.12
Eu que aqui estou por mim espero
Pra quem eu escrevo esse e-mail? Pra mim mesmo. Trelelelê. Ultimamente eu tenho querido fazer tudo, mas não tenho podido fazer nada. Reclamo da falta de tempo, mas não é isso que me falta de verdade. Meu blog ficou meio literário nos últimos tempos e se você pensa que por isso ele perdeu o caráter de diário online, engano seu. Nada poderia ser mais sincero do que a subjetividade e o lirismo da arte de domar as palavras através da literatura. Mesmo que seja essa minha literatura fajuta de blog, mas vá lá. É o melhor que tá tendo e que eu posso oferecer.
Meu amigo Conrado Miguel continua pedindo pra postar o tempo todo, e como é difícil pra mim negar qualquer coisa a alguém eu sempre deixo ele escrever. É um cara engraçado, não cansa de me falar de uma tal teoria de que as pessoas são cães, mas quer saber, eu acho ele ácido demais, tenho até dó e fico pensando de onde surgem essas coisas que ele gosta de escrever. Tô aprendendo umas frases de efeito com ele e resolvi usar a intertextualidade nos títulos.
Independentemente de Conrado, eu mesmo fiquei muito mais literário depois que entrei na faculdade de jornalismo, mesmo não tendo mais tempo pra ler literatura (eu sei que não é isso...). Mas não é de se espantar. A formação que eu tenho é tão reflexiva e abstrativa que a técnica fica totalmente subvertida à mera técnica (à merda técnica). É que na academia não cabe repetição de padrões, sendo ela mesma o maior de todos.
Nessa onda eu vou surfando. Vou analisar o jornalismo literário da revista piauí num tal de Projeto A2, vou fazer um projeto de pesquisa sobre o sexo virtual ou cibersexo, e tô descobrindo cada vez mais potencialidades no meu trabalho com o som. Se a onda é uma marola ou tsunami, deixo pra quem tá me vendo surfar dizer, porque eu mesmo só vejo a prancha. Se vejo. Tô cheio de crises em efeito dominó também. Se pá... pum! Não sei se me inscrevo pro intercâmbio, apesar de querer viajar e conhecer qualquer coisa nova, mas não sei se quero sair do meu país pra estudar e ainda mais com a obrigação de elevar o nome da minha instituição de ensino, nem sei pra onde eu quero ir também, muito menos se vou passar então... foda-se. Fico pensando pra que serve isso tudo além de status, mas aí lembro que a vaidade é o centro de tudo, e a espontaneidade não existe, então... foda-se mesmo assim.
Quero aprender a dirigir mas ao mesmo tempo não quero, quero fazer algum esporte mas também não quero. Eu quero tchu, eu quero tcha, mas não quero tchutcha. No fim eu não sei.
Só sei que nada sou. Foi Conrado que me ensinou.
8.5.12
4.5.12
Eu te desamo
Eu já sabia escrever quando comecei. Acho que você também já sabia desenhar quando começou. É lógico que eu tinha um ideal, um ideal que foi mudando ao longo do tempo a partir da descrença. Deixa dessa tolice de admirar demais o desconhecido. O que será que é? Eu tô cansado dessas minhas emoções, e são elas que não estão cansadas de mudar. Eu te desamo porque te amo. Pra desamar tem que amar; o desamor é uma necessidade e o amor, uma vontade. Mas eu ainda penso que posso estar enganado, porque pode ser o contrário. Patinando nessa fina camada de gelo que é a vida, se você para, afunda. Ser profundo mata. Eis-me aqui, senhores. O meu pé quarenta e três não é maior que seu ego, o meu pau de vinte centímetros não preenche sua alma vazia, e quando eu entro no seu fabuloso mundinho eu saio logo depois. De solidão. Meus braços não abraçam seu desprezo, e mesmo se fossem grandes o bastante, sua pele dá choque. E seu cheiro, mesmo sendo bom, me dá asco, porque não sai de mim nem sei de mim. Nem sei se eu afirmaria de novo tudo isso, porque... O desamor é um exercício. E eu vomito. E meus cães me consolam.
Conrado Miguel
21.4.12
Filtro Solar ou Socialize
Senhoras e senhores da turma de 2012: socialize! Nunca deixem de socializar. Se eu pudesse dar somente uma dica sobre o futuro seria essa: usem a socialização! Os benefícios a longo e a curto prazo dessa prática provavelmente estão comprovados pela ciência. Mas se não estão, pouco importa. Este conselho, assim como todos os outros que eu possa dar, estão fundados apenas na minha experiência errante e boêmia. Esqueça a beleza e o poder da juventude, mesmo que esse seja um grande fator de aproximação social, no fim eles não são nada, porque a beleza e o poder com o tempo acabam virando fraqueza e feiura. E também não use o poder e a beleza da sua juventude para aumentar sua sedução social, apesar de às vezes ser inevitável, mas se torna um problema quando fica apenas nisso. Não se preocupe com o futuro, porque o futuro quando chega não é mais futuro, e talvez eu esteja caindo em contradição por causa do meu conselho anterior, mas eu já caí totalmente quando comecei a escrever esse texto e passei da terceira frase. Curta a vibe. Você nunca teve a sensação de que as melhores coisas da vida são aquelas que te pegam de surpresa, aquelas que você não planeja? Não seja leviano com o coração dos outros, não seja mesmo. Eu não sei se é pior magoar ou ser magoado, por isso, evite que a socialização seja negativa nesse sentido. Se for inevitável, esforce-se pra que seja menos ruim. Não tenha vergonha do seu corpo ou do que as pessoas vão achar dele. Dance! Mesmo que seja sozinho no seu quarto de cueca e meia ao som de Lily Allen, ou numa balada com seus amigos. Diga fuck you pro que os outros vão achar de você. Dedique-se a conhecer seus pais, porque socializar com a família é outro ponto muito importante. Pode não ser tão prazeroso do jeito que você está acostumado, mas vai ser prazeroso de alguma forma. Às vezes as pessoas mais próximas de nós são as mais distantes. O mesmo vale para os seus irmãos. Valorize quem vai estar sempre com você.
Socialize, não tenha preconceitos, não se prive de experiências. Seja amável com os outros, porque nós só encontramos nosso prazer no outro. Às vezes você não quer, tudo bem. Mas queira às vezes, porque tudo te constrói de alguma forma. Por isso, se te chamarem pra ir pro inferno diga apenas:
- Deixa eu pegar meu filtro solar.
30.3.12
A dor do prazer signiindo
Ele está cansado, precisando de qualquer coisa que lhe dê um gás. Ele está compensando amizades, ou a falta delas, com trabalho, ou o excesso dele. A festa é só amanhã, hoje ele já levou dois bolos.
- Eu não vou te ligar mais, você sempre esquece e não tá nem aí pra mim.
No fundo no fundo, todo o mundo é sozinho. Ninguém come, dorme, ou vive por ninguém. Ninguém consegue se misturar física ou psicologicamente a ninguém. Toda e qualquer companhia é superficial. Todo contato é raso. Tudo o que sabem sobre você é o que a sua linguagem traduz disso.
- Seu beijo é tão bom.
Como ter prazer nas obrigações? Durante toda a sua vida ele jamais pensou sobre isso, apenas fez. Mas agora ele pensa, e sofre. Seu masoquismo está em pensar que depois da dor vem o alívio, por isso é bom sofrer, porque o alívio é imensamente mais prazeroso. Quanto mais dor, melhor.
- Você quer?
- Quero.
Às vezes ele escapa, de tudo. E só sente. O quê... o quê.... o quê? Sei não. Se soubesse não sentia. E assim vai. Indo pelo meio, indo pelo canto, ou parado, mas ainda parado vai. Porque se não vai, fica. Rá, rá, ele riu porque lembrou de uma piadinha ridícula de um professor. Significa, signivai... O signo sempre significa algo para alguém, ele nunca fica, ele vai... A piada é péssima, mas seu humor está melhorando. Se soubesse não sentia.
- Nosso problema é não conversar.
Depois disso o silêncio.
19.3.12
Volta o cão arrependido
Au-a... Porra. Já ia latir. Às vezes eu lembro que não sou um cão, mas é que minha viralatice está na minha humanidade de tal forma que não faz diferença alguma. Vagueio pela noite uivando. Estou no cio, mesmo que meu cio dure o tempo todo. Cadelas me cercam, invertendo totalmente a ordem dos gêneros. Visitamos canis onde todos os nossos semelhantes estão juntos, mas mesmo assim uivam para a lua, a representação mais clássica da solidão e da melancolia na nossa espécie. Ah, que droga, esqueci de novo que a minha espécie é outra, mas já disse que não importa. Todo mundo tem rabo e todo mundo balança ele do mesmo jeitinho. Hoje conheci um homônimo meu. Xará, né, pra parecer menos pedante, mas já caio em contradição dizendo essa palavra. Na verdade eu já o conhecia, mas hoje eu conheci de novo. É legal quando isso acontece, a gente lembra de coisas que estuda sobre as interações entre pessoas e vê como a teoria acontece na vida mesmo, na maioria das vezes uma vida de cão, mas vá lá. Nem sempre queremos uivar ou latir, às vezes tudo o que a gente mais quer fazer é cheirar o cu do cachorro que tá do lado. Acredite, dá pra conhecer muito melhor desse jeito.
Qualquer dia desses eu enterro um osso.
Conrado Miguel
12.3.12
9.3.12
A paz superficial
Eu não sei o que eu quero, eu não sei o que eu não quero. Eu flutuo no vácuo num estado de subconsciência. Um dos meus problemas sempre foi ser reflexivo demais, pensar demais, absorver demais tudo o que está à minha volta. Meu outro problema é superestimar demais aquilo que eu não conheço e que eu penso que conheço, imaginar como seria sem saber como é. Quando junta tudo, aí fode legal. Eu tenho que estudar pra ter uma profissão, pra ser alguém na vida, que merda de mundo. A pior parte da vida é ter que viver o tempo todo. Tudo o que você é, sua personalidade, o que você pensa e como age é reflexo do acúmulo de experiências que teve ao longo da vida. Eu sempre busquei a paz de espírito, nunca a encontrei. A paz de espírito é aquilo que você sente quando goza? Quando beija quem você ama? Quando tira 10 na prova? São momentos tão fugazes. A paz de espírito deve ser algo que dure mais, um estado contínuo de satisfação, como quando a gente é criança e só não está em paz de espírito quando chora, ou quando fica nervoso no primeiro dia de aula, ou quando cai e machuca. Depois disso, não sei pra todos, mas a coisa se inverte e você só está em paz de espírito quando faz o que gosta. Mas e se eu não sei do que eu gosto? Ontem uma amiga me disse pra resgatar sempre esse espírito de criança, despreocupado, de bem. Mas eu já cresci, já sou mais alto que meu pai e já tenho barba, será que ainda consigo ser criança? Não dá mais pra acordar, fazer um deverzinho, ver desenho, ir pra escola, voltar e brincar na pracinha. Mas que grande velho que eu sou, tenho 19 anos, nem tenho conta pra pagar, gasto o dinheiro que eu ganho com álcool e festas. Altas curtições, altas badalações, mas isso é Malhação demais pra mim. De que adianta a embriaguez se depois vem a ressaca? De que adianta pegar geral se depois você acaba voltando pra casa sozinho? Mas eu preciso de superficialidades. O sofrimento é sempre maior, por isso a humanidade se apega tanto a deuses, porque é difícil crescer e ficar sem pai e mãe, porque nós somos fracos.
A minha vida toda eu quis saber o que era a vida e descobri que ela não é nada. Ninguém pensa na morte no supermercado.
4.3.12
E aí, como anda a vida? :)
asked by suzisan
A vida anda sem dizer pra mim pra onde vai. Tem horas que eu penso que ela tá indo pra um lugar, aí de repente ela toma outro rumo. É difícil pra gente controlar como a vida anda, porque ela depende também de como a vida dos outros anda. Às vezes elas vão andando e se esbarram, e só elas mesmo pra decidirem o que vai ser depois disso. Tem horas que o esbarrão machuca, tem horas que é de leve, tem horas que é como um abraço... Mas o que importa é que a vida anda, e não vamos deixar ela parar.
3.3.12
Uivo vão
E se você é um cão de rua? Se alguém te acha e você não precisa mais dormir no chão, nem em qualquer tapete de "bem-vindo"? Agora você tem uma cama confortável e cheia de calor. Macia onde a dureza é só lembrança. Você late, late fundo, late fora, late. Mas aí depois você descobre que ninguém ouvia o seu latido. Eu latia em vão, cão. Meu nome? Rex, Totó, Chicão, Quico, Marco Antônio. Meu nome era mais vão que meu latido. Eu ainda não sei qual era o mais ignorado. Um cão que achou um dono que só levou ele pra casa porque tinha dó demais, era bom demais, pra deixar ele na rua; e só porque também o cachorro o seguiu até a porta de casa. Sem essa de amor demais. Já vacinei, tá ótimo. Gatos são melhores que eu, eles dizem fodace pra você. Eu, cão, não consigo, eu sou leal até se o desgraçado me maltrata e só faço balançar meu inquieto rabo. Cansado de latir à toa eu volto a uivar. Mas eu reconheço que meu uivo é ainda mais vão que qualquer coisa. A lua não ouve. Já o latido, pelo menos o fazia tapar os ouvidos.
Conrado Miguel
23.2.12
Minhas férias na fazenda
Andorinha lá fora está dizendo:
"Passei o dia à toa, à toa!"
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa.
"Passei o dia à toa, à toa!"
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa.
Manuel Bandeira
Mais do que apenas belas fotos, férias são sempre ricas, pelo menos pra mim, em reflexões e calmaria. Se eu encosto na parede pra divagar, já dizem que estou desanimado, mas como o personagem do post anterior, é que eu não gosto de exclamar. Três meses entrecortados por duas semanas e três dias de trabalho, trabalho que é tão prazeroso quanto o não-fazer-nada das férias. Se dizem que estou fofinho, já sei que é porque engordei cinco quilos. Qual é? Nem vi. Simplesmente de uma dia pro outro eu não precisava mais usar cinto com minhas calças 40. Depois de dois anos de vida sendentária você queria o quê, comandante? Mas minhas férias foram cheias de luz, cheias de dias. Cheias de primos, cheias de tias. De rimas e alegrias. E antes de você vomitar arco-íris, só não digo que elas também foram de trevas porque me chamaram de racista quando eu disse lista negra. Racista, eu, bisneto de um escravo muito obrigado. Essa eu passo. E onde diabos a fazenda entra nisso? A fazenda é apenas pra deixar o título com cara de redação de quinta série. Mas ela também foi o pós-clímax das férias, só não foi o desfecho. Ainda me resta pouco mais de uma semana. Férias de paz, férias de curtição, férias de amor... No fim só resta o tédio.
E eis o resultado do trabalho aqui.
12.2.12
Microconto da contradição humana
- Toc toc.
- Quem é?
- Eu.
- Eu quem?
- Cê sabe, caralho. Abre essa porra de uma vez.
- ... Ainda assim você não exclama.
- Eu evito, acho que não fica muito bonito no escrito.
- Mas não é só por isso.
- Sim, é minha personalidade também. Me exaltar é raridade. Fazer o quê?
- Isso é bom, parceiro, só tem que ter cuidado pra não exagerar na dose e virar apatia.
- É...
- Quem é?
- Eu.
- Eu quem?
- Cê sabe, caralho. Abre essa porra de uma vez.
- ... Ainda assim você não exclama.
- Eu evito, acho que não fica muito bonito no escrito.
- Mas não é só por isso.
- Sim, é minha personalidade também. Me exaltar é raridade. Fazer o quê?
- Isso é bom, parceiro, só tem que ter cuidado pra não exagerar na dose e virar apatia.
- É...
30.1.12
Latido só
Bêbado, drogado. Se minhas costas não doessem eu dormiria no chão todo dia. Colchão é só o chão com uma sílaba antes, uma sílaba que amacia a dureza e esquenta... o frio. Bobagem pensar que é algo mais. O colchão é um conforto pra solidão. A solidão de um desejo que não se realiza, de uma ação reprimida pela timidez dum corpo. Dum copo. Que devia fazer o que não faz. Ou eu não faço o que devia fazer. Ou ele também não. Ninguém faz porra nenhuma aqui. Um cão de rua chega quieto. Talvez eu seja que nem um vira-lata, venho me aproximando devagar, peço com os olhos, doido pra alguém passar a mão na minha cabeça e me dar de comer. Mas eu não sei falar. Sei não. Sou meio bestinha também. Mas eu sempre caço uma caminha, nem que seja um tapete encardido escrito "bem-vindo" na porta de uma casa. Porque o chão dói. Se ninguém me acha e me leva, eu fico lá, com esse olho pidão de sempre. Eu só queria um dono. Se alguém me entende, eu lato. Mas não com au-au, essa onomatopeia maldita que inventaram pra representar um latido. No dia em que um cão latir desse jeito ele não será mais um cão. Eu não lato assim. Meu latido é mais fundo, fica dentro, no coração.
Mas na pior das hipóteses eu uivo pra lua.
Conrado Miguel
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