Quando um artista novo e desconhecido desponta como uma erupção vulcânica, avassalando histerismos até onde sua música alcança, há que se desconfiar. Na maioria das vezes eles apenas reproduzem padrões e não inovam, partindo inclusive para o apelo. Mas a indústria não é uma grande bolha fechada com todos os seus estereótipos, pelo contrário, ela necessita de dinamismo até para sua própria sobrevivência.
Ano passado a cantora americana Lana Del Rey lançou seu primeiro álbum Born to die (é interessante pesquisar sobre ela para ver como advogados e empresários sempre influenciaram em sua carreira, até mesmo em seu nome). O sucesso foi instantâneo. Recentemente ela lançou o clipe da faixa-título do álbum, algo realmente surpreendente na linguagem audiovisual de artistas lançados. O videoclipe possui relações de significado intrincadas e não está pautado apenas por clichês do gênero (para ver clique aqui) . Nele, vê-se ela vestida de branco, com uma coroa de flores, guardada por dois tigres num trono dentro de uma igreja. Uma vez que o título da música é Nascidos para morrer, e o seu fim no vídeo é derradeiro, pode-se entender essa parte como um estado póstumo de graça e glória. Posteriormente no vídeo ela aparece andando por um corredor até chegar a uma porta, onde entra; uma alusão clara ao caminho para o paraíso. A simbologia da morte também é muito presente no clipe. O causador da morte da personagem que a cantora interpreta, seu namorado, foge do estereótipo do galã saradinho e é substituído por um drogado magro e tatuado, certamente não em vão. Nada melhor do que uma figura cadavérica e underground para representar a morte. Enquanto está em seu carro, a luz e o desfoco da câmera criam uma ilusão de sangue na roupa da garota. E inteligentes jogos de luz colocam o namorado em cena como um fantasma, sempre em posições ameaçadoras para a personagem, que na maioria das vezes parece não perceber. E as luzes, também presentes na igreja, simulam o movimento de um carro, afinal ela foi morta num acidente de trânsito.
Em seu vídeo, Lana Del Rey revive o videoclipe como o gênero audiovisual mais livre e onde mais cabem experimentações e prova que mesmo sendo uma celebridade construída é possível fazer arte por trás do glamour.